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Mensagem da Semana

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Apocalipse 22:12

domingo, 1 de fevereiro de 2015

CRÔNICA DO DOMINGO: DO PITORESCO AO PSICODÉLICO DE DUQUE BACELAR



Por Lázaro Albuquerque Matos


Sem eu me esquecer dos meus amigos de infância da Beira do Rio, Manoel do Jaime, Antônio do Joaquim Olímpio e Alberto do Aurélio, o meu saudoso primo Zé Neto me aproximou dos amigos dele: Jorjão Oliveira, Lisboa, Brito Filho, Josimar Brito, entre outros.
Jorjão, Filho do Sr. José Ribamar Oliveira, estudava em Fortaleza. O Zé Neto e os outros estudavam em Teresina. A Jovem Guarda explodia no Brasil inteiro. Nas férias em Duque Bacelar, o movimento da Jovem Guarda tomava conta da cidade. O prefeito Pedro Oliveira, de espírito jovem, dava cobertura e muito apoio para que o movimento dos jovens cantores movimentasse Duque Bacelar. Rosângela Oliveira e Fátima Brito – lindas por inteiro – eram as musas das férias e da Jovem Guarda.
No dia de sua posse, o prefeito Pedro Oliveira já mostrou que admirava a música jovem: nesse dia eu vi o primeiro conjunto musical tocando em Duque Bacelar. Era um bando de jovens cabeludos tocando guitarras e cantando as músicas da Jovem Guarda. Bem diferentes dos sanfoneiros Damásio e do Zeca Maia, até então, os tocadores nas festas de nossa cidade. A festa da posse foi realizada onde é hoje a Secretaria de Assistência Social. Não entrei na festa. Eu já tinha 15 anos, mas não tinha terno. Fiquei de fora, só olhando.
Por conta da disposição jovem do Sr. Pedro Oliveira, foi criado o intercâmbio cultural entre Duque Bacelar e suas vizinhas Miguel Alves, Buriti e Coelho Neto. Quando havia festas em Duque Bacelar, iam convites para essas cidades. A mesma coisa elas faziam nas suas festas: mandavam convites para Duque Bacelar. O espírito festeiro de Duque Bacelar não deixava a cidade por muito tem sem festas. O conjunto Sambrasa encurtou o caminho entre Teresina e Duque Bacelar para nos brindar com sua bela interpretação das músicas dos cantores da Jovem Guarda – e com a dele: “Meu Boi Morreu”.
Para puxar o intercâmbio de Duque Bacelar com suas cidades vizinhas, o Jorjão Oliveira estava sempre à frente dos acontecimentos. Por ser filho do Sr. Ribamar Oliveira, ele era bem relacionado na alta sociedade dessas cidades. Em Miguel Alves, por exemplo, o Jorjão era amigo de dois jovens da família Torres, o Átila e o Stênio. Quando íamos com o Jorjão para as festas de Miguel Alves nada nos faltava lá. As festas eram realizadas no prédio da Prefeitura. Conheci a atual prefeita de Miguel Alves justamente na Prefeitura, não como prefeita, ainda, mas como uma jovem bem animada, dançando nessas festas.
Em um dezembro de férias, e de muitos estudantes em Duque Bacelar, Jorjão, com seu ar jovenguardista de moço bom, convida a turma toda para uma “Tertúlia de Arromba” na casa do pai dele, o Sr. Ribamar Oliveira. Ele queria mostrar os últimos lançamentos dos discos dos cantores da Jovem Guarda que ele trouxe de Fortaleza. Lá estavam Roberto Carlos com o disco “Em Ritmo de Aventura”, Erasmo Carlos, com sua “Festa de Arromba”, Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Wanderléa, Os Incríveis, Eduardo Araújo e Wanderley Cardoso, todos com músicas novas.
Casa cheia, juventude em peso. Eu, lá, claro. Moças e rapazes à la Jovem Guarda. Calças bocas de sino e minissaias predominavam no salão, com uma radiola de alta fidelidade dando conta do som. Bebida à beça. Duas geladeiras entupidas de cerveja. A radiola era toda automática, e pegava 10 discos, que iam caindo na agulha à medida que iam terminando as músicas. As geladeiras eram movidas a querosene – as elétricas ainda não existiam em Duque Bacelar, pois a energia só ia das 18 às 23 horas.
No embalo de Renato e Seus Blue Caps, com a música “Ana” encerrando o disco deles, faz-se uma pequena pausa enquanto cai o próximo disco na agulha da radiola. Aí vem Erasmo Carlos com a “Festa de Arromba”. Foi um frenesi total, com pernas pra cá; braços pra lá; cinturas requebrando e minissais rodando: todos dançando. Era uma alegria só. Houve uma correria às geladeiras em busca de cerveja. Percebeu-se, com isso, que uma delas não estava funcionando. Mexe aqui, mexe ali, todo mundo querendo “endireitar” a geladeira o mais rápido possível para que a festa não parasse. Nada resolvido: o querosene da geladeira havia acabado. Tanque seco, fogo apagado.
O Joaquim Torres, que também estava na festa, e trabalhava na loja do Sr. Ribamar Oliveira, arranjou uma lata de querosene. De tanque cheio, a geladeira precisava de ar, muito ar, antes de se acender o pavio. O ar era injetado por uma bomba. O Joaquim Tores mesmo fez isso. Na hora de acender o pavio, o tanque explode na cara dele, com o querosene virando chamas no salão da festa e no corpo de Joaquim. Um horror, com gritos de desespero. Lembra-me hoje a boate KISS, em Santa Maria, no Rio Grande Sul. Mas além do Joaquim Torres, ninguém se feriu ou se queimou. Com o acontecido, a radiola ficou tocando sozinha no salão e já estava com o próximo disco rodando na agulha quando a calma voltou a reinar. Era o disco da Wanderléa, com uma música dizendo assim: “Esta é o prova de fogo/Você vai dizer se gosta de mim”... Dizem que uma jovem que estava na festa, aproveitou a música da Wanderléa para oferecê-la ao Jorjão.
A festa acabou e o Joaquim Torres foi levado às pressas para Miguel Alves e de lá para Teresina em busca de socorro médico. Graças a Deus, o nosso amigo Joaquim foi salvo e está ali em Coelho Neto, com a cabeça branquinha, para nunca mais pensar em bombear ar em tanque de geladeira.

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