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Mensagem da Semana

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Apocalipse 22:12

quarta-feira, 5 de junho de 2013

‘Júnior Bolinha’ nega envolvimento no crime e acusa delegados por maus tratos

O segundo dia de oitivas, desta semana, foi marcado pelo depoimento de mais três dos 12 acusados pela morte do jornalista Décio Sá. O interrogatório mais demorado de ontem foi o do empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior, o “Júnior Bolinha”, que teve início às 10h10 e só terminou por volta de 13h45. Em vários momentos de seu depoimento, o acusado demonstrou nervosismo e caiu em algumas contradições. Durante a sua oitiva “Júnior Bolinha” negou o seu envolvimento no crime e relatou que foi maltratado pelos delegados da Comissão Investigadora da Polícia Civil, Maymone Barros e Roberto Larrat, por ter se recusado a acusar o deputado estadual Raimundo Cutrim.
“Júnior Bolinha” disse, também, que foi procurado pelo empresário Pedro Teles, dias antes da morte de Décio Sá. A conversa teve como objetivo pedir para o acusado convencer uma pessoa conhecida sua, testemunha de um julgamento no qual Teles seria réu, em Barra do Corda, para amenizar as declarações contra o empresário cordino ou permitisse que este custeasse as suas despesas da viagem até aquele município.
Outro que não conhecia Décio Sá – Igual a José Miranda (pai de Gláucio), o empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior disse não conhecer e nunca haver mantido contato com o jornalista Décio Sá, além de não ter participou da trama que resultou em sua morte. “Júnior Bolinha” afirmou, em seu depoimento, que estava em casa na noite do crime, tendo ficado sabendo do fato somente no outro dia, por meio do rádio. “Para mim, ele nunca fedeu nem cheirou, pois jamais soube quem era Décio Sá. O que tive conhecimento foi sobre a publicação de uma postagem ao meu respeito, há seis anos, mas não li sobre o fato; e, a isso, as pessoas atribuíram a perda da concessão dos produtos Coca-Cola que eu revendia em Santa Inês, mas isso não procede. Afinal, depois descobri que a postagem se relacionava a um negócio que feito por mim com o prefeito Nenzim, de Barra do Corda, onde dei a ele uma caminhonete SW4 e recebi em troca um trator; porém, a máquina era roubada, e mesmo eu tendo entrado na Justiça para desfazer o negócio, não consegui. A única justificativa que encontro para tentarem me incriminar é a minha ligação com o deputado Raimundo Cutrim; entretanto, não somos amigos, a nossa relação é apenas comercial, pois fiz alguns serviços em sua propriedade”, disse.
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“Júnior Bolinha”, “Fábio Capita” e “Bochecha” foram interrogados nas oitivas ocorridas ontem. (Foto: G. Ferreira)
“Junior Bolinha” contou que não conhece o executor do jornalista, o pistoleiro Jhonatan Silva, e que nunca contratou os seus serviços. Ele disse desconhecer que algum pistoleiro matasse suas vítimas ‘fiado’, para receber o pagamento depois. O acusado frisou que, todas as informações a respeito da vida do blogueiro, foram repassadas por meio da própria polícia. “Não sei o que ele fazia ou quem tinha a intenção de matá-lo, mas cansei de ouvir os policiais dizerem que o jornalista costumava extorquir prefeitos e empresários, o que havia lhe rendido muitos desafetos. Nunca fui agenciado pelo Gláucio ou por seu pai para contratar nenhum pistoleiro. Na realidade, não conhecia o senhor Miranda e não acredito que eles possam estar envolvidos neste crime, apesar de todas as acusações que fizeram contra mim em relação à morte do Fábio Brasil, que era meu amigo. Em relação ao Pedro Teles, eu o conhecia, mas há muito tempo não o via, antes da morte do Décio ele me ligou marcando um encontro, pois, tinha um julgamento em Barra do Corda e como eu conhecia uma das testemunhas, queria me pedir um favor, a fim de que conversasse com a pessoa para ela amenizar o lado dele ou que oferecesse o custeio de suas despesas até a cidade já que se trava de um lugar longe e assim eu fiz”, declarou.
O acusado ressaltou que teria vendido um veículo BMW para Gláucio Alencar, mas que o mesmo ainda teria ficado lhe devendo a quantia de R$ 7 mil. “Bolinha” explicou que todas as vezes que ligou para o suposto mandante foi para cobrar a dívida que Gláucio se recusava em pagar. Ele revelou que, coincidentemente, encontrou Gláucio Alencar no escritório do advogado Ronaldo Ribeiro e aproveitou a oportunidade para reforçar a cobrança. “Após uma ‘pressãozinha’, ele me pagou. Mas quero deixar claro que nunca o extorqui, nem recebi dinheiro pagar pistoleiro; exigi apenas o que era meu por direito. Em relação ao ‘Bochecha’ (Fábio Aurélio do Lago e Silva), nunca fiz negócio com ele, apenas intermediei a venda de uma casa que pertencia ao irmão dele, o Adriano Lago, com “Neguinho Barrão”, que costumava fazer cobranças para a minha empresa. Na prisão, escutei muito a polícia falar em “laranjada” – quando alguém é colocado em uma situação de laranja, e agora percebo que foi assim que acabei sendo envolvido em toda esta trama, como ‘um laranja’”, afirmou.
Castigo – “Junior Bolinha” revelou que, durante a fase do inquérito policial, foi castigado e coagido pelos delegados Maymone Barros e Roberto Larrat, que integravam a comissão formada para apurar o assassinato de Décio Sá, uma vez que se recusou em acusar o deputado Raimundo Cutrim. O acusado contou que os delegados teriam feito uma proposta para que ele acusasse o parlamentar em troca de sua liberdade, caso recusasse o assunto deveria ser esquecido. “Enquanto isso, vários delegados entravam na sala e perguntavam se eu já havia concordado. Como me neguei, fui castigado, dormi no chão, me jogaram água fria de madrugada e levaram minha Bíblia e todos os jornais que eu costumava ler. Me disseram para ser inteligente, e assinar o que queriam – a confissão afirmando que foi o Raimundo Cutrim, caso contrário pediriam a minha transferência para o presídio Federal, sob a alegação de que eu estaria envolvido com uma facção criminosa da Bolívia”.
O acusado declarou ser amigo de infância de Fábio Aurélio Saraiva Silva, o “Fábio Capita”, mas frisou que o militar nunca lhe forneceu qualquer tipo de armamento ou munição. “Junior Bolinha” também afirmou ser amigo de “Bocheca”, mas que apesar de ele ser um bom rapaz, nunca trabalharam ou houve alguma negociação entre eles.
“Fábio Capita” – Em seu depoimento, o capitão Fábio Aurélio Saraiva Silva, da Polícia Militar, relatou que acreditava estar sendo acusado por conta do depoimento de Jhonatan Silva, no qual teria dito que a arma do crime teria sido fornecida pelo militar para “Júnior Bolinha”. Segundo “Fábio Capita”, ele e “Bolinha” eram amigos de infância, porém, essa amizade nunca foi motivo de favorecimento para nenhuma das partes.
O capitão garantiu ser todas as suas armas registradas, e que nenhum policial pode deixar o serviço portando a arma recebida no início do expediente. “O controle de armamento no Batalhão de Choque é muito rígido, extravio de arma neste setor é praticamente impossível acontecer. Conheço o ‘Júnior’ como empresário do ramo de aluguel de máquinas pesadas, se tem negócios escusos não é de meu conhecimento. Afinal, boa parte da minha vida profissional foi viajando em missões ou me aperfeiçoando por meio de cursos. Certa vez, ele me pediu para verificar sobre uma dessas máquinas que estava presa no Terminal da Ponta da Espera. Foi então que liguei para o policial do local e pedi informações sobre o ocorrido, prontamente me respondeu que o condutor estava sem habilitação, então disse para ‘Bolinha’ tomar as providências necessárias a fim de que o veículo fosse liberado”, ressaltou.
Coação – O capitão Fábio Aurélio disse que, após um pronunciamento feito pelo deputado Raimundo Cutrim, na tribuna da Assembleia Legislativa, sobre o vazamento de informações envolvendo o seu nome no crime, o secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, teria manifestado a vontade de falar com ele, porém, pediu que a solicitação partisse do próprio capitão. O militar afirmou ter solicitado o encontro junto ao Comando Geral da PM e ficou surpreso com o teor da conversa, quando chegou ao gabinete do secretário. “A primeira coisa dita por Aluísio Mendes foi ter certeza que eu não havia fornecido arma nenhuma para o assassinato do jornalista, e completou que para me ajudar eu precisava ajudá-lo também. Ele frisou saber que ‘Junior Bolinha’ era bandido, um fanfarrão e falava demais. Mas, eu rebati e disse o conhecer como um empresário do ramo de aluguel de máquinas pesadas, inclusive como prestador de serviço para pessoas importantes e respeitadas, como o Raimundo Cutrim. Foi então que, muito nervoso, Aluísio disse não ser o deputado uma referência positiva para ninguém neste estado ou em qualquer lugar. Em decorrência disso, a SSP tenta justificar minha prisão, pois ela era muito frágil e reconhecer o erro seria dar o braço a torcer”, declarou “Capita”.
A defesa do capitão Fábio Aurélio questionou o fato de constar nos autos do processo uma conversa por telefone entre o militar e “Júnior Bolinha”, por volta das 6h do dia 24 de abril, do ano passado, manhã seguinte ao crime. Entretanto, os advogados mostraram que o próprio relatório da Polícia Civil diz que a chamada não foi completada. “Fábio Capita”, ouvido por quase duas horas, completou, dizendo que o relatório também apontou que ele teria omitido tal informação; mas, segundo o acusado, jamais foi perguntado sobre tal ligação e que não falou com “Bolinha”, após a execução.
“Bochecha” – O último depoimento do dia foi o de Fábio Aurélio do Lago e Silva, o “Bochecha”, que relatou não conhecer nenhum dos acusados, com exceção do advogado Ronaldo Ribeiro e de “Júnior Bolinha”, de quem era amigo e matinha relações profissionais. “Bochecha” disse trabalhar com a compra e venda de veículos, tendo repassado alguns clientes para “Bolinha”. “Não conhecia Gláucio, nos encontramos uma vez no escritório de Ronaldo e ele perguntou se eu era o ‘Bochecha’, quando disse que sim, falou que meu telefone estava grampeado, então respondi que isso não me preocupava porque não tinha nada a esconder. Em relação à casa do Parque dos Nobres, o negócio foi feito entre o meu irmão Adriano, pois o imóvel era dele e de ‘Junior Bolinha’; eu não tive nada a ver com isso. As pessoas que ‘Júnior’ abrigou nessa época, segundo os relatos da polícia, não eram de meu conhecimento e nem problema da minha família, uma vez que a casa estava em seu poder durante esse período. O meu lance sempre foi farra e mulher, jamais me envolvi com o mundo do crime”, afirmou.
O Ministério Público e a defesa dos acusados Gláucio Alencar e José de Alencar Miranda Carvalho (pai de Gláucio) solicitaram, à Justiça, investigações mais aprofundadas em relação a uma das escutas telefônicas envolvendo o empresário Pedro Teles. Entretanto, o juiz Márcio Castro Brandão, que responde pela 1ª Vara do Tribunal do Júri, informou que tal procedimento poderá ser realizado; porém, no final das instruções e após as alegações finais, quando o resultado das oitivas for pronunciado.
Para hoje (5), estão previstos os depoimentos dos acusados Jhonatan de Sousa Silva, Marcos Bruno Silva de Oliveira e Elker Farias Veloso.
Recapitulando os depoimentos
Gláucio Alencar (suposto mandante) – Durante as cinco horas em que prestou depoimento, na manhã de segunda-feira (3), o acusado informou ter “Júnior Bolinha” lhe oferecido, por várias vezes, a morte do empresário Fábio Brasil, assassinado em 31 de março de 2012, em Teresina – Piauí. Ele narrou que, apesar das várias negativas, “Bolinha” teria informado, por meio de mensagem via celular, que o “serviço estava feito” e que precisava de dinheiro para pagar o executor, passando a extorqui-lo. Gláucio reafirmou nunca ter feito qualquer tipo de pagamento ao jornalista Décio Sá; porém, explicou que certa vez foi procurado pelo advogado Ronaldo Ribeiro – também acusado no processo, que estava organizando ‘cotas’ entre os amigos para consertar o muro da casa do blogueiro que havia caído após uma forte chuva, com um prejuízo total de R$ 15 mil. O acusado disse que colaborou com R$ 3 mil, valor que entregou diretamente nas mãos do advogado. Gláucio Alencar contou, ainda, que durante a sua permanência em uma das celas do Corpo de Bombeiros, teria recebido a visita de um advogado que havia lhe proposto o pagamento de R$ 10 milhões e a sua liberdade, caso ele conseguisse convencer seu pai a assumir a autoria intelectual do crime.
José de Alencar Miranda Carvalho (pai de Gláucio) – O acusado relatou que não conhecia o jornalista Décio Sá, nunca estando com ele. O pai de Gláucio confirmou a proposta que o filho recebera para que assumisse a autoria intelectual do crime, porém, por medo, não declinou o nome do advogado que teria feito a proposta. Miranda informou que após o episódio teria orientado o filho a solicitar uma escuta telefônica a fim de registrar a conversa, mas o pedido foi negado e uma revista foi realizada na cela onde Gláucio estava, e três cadernos com suas anotações teriam sido levados.
Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros (policiais civis) – Ambos declararam que possuíam apenas ligações profissionais com Gláucio Alencar, que por várias vezes os chamaram no intuito de intervir contra uma possível extorsão que ele vinha sofrendo de “Júnior Bolinha”, por conta da morte do empresário Fábio Brasil, e garantiram que todas as operações feitas em seu favor eram de conhecimento de seus superiores. Alcides Nunes afirmou que conheceu José de Alencar Miranda há mais de 30 anos, e que a família do idoso sempre o teve como referência policial. Ele esclareceu que no último mês, antes da morte do jornalista, acompanhou Gláucio por três vezes, em algumas de suas viagens ao interior do estado, mas sempre com o conhecimento das autoridades policiais superiores. O policial Durans frisou conhecer os acusados somente após as diligências que fez na companhia do colega Alcides, mas que o relacionamento com os mesmos sempre foi estritamente profissional.
Do Jornal Pequeno 

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