Em entrevista à Rádio Senado, o presidente Sarney falou sobre uma de suas grandes paixões e um hábito de sua vida inteira: a leitura. Questionado sobre a perpetuidade do livro impresso diante as novas tecnologias, como o livro eletrônico, Sarney disse acreditar que duas invenções da humanidade jamais desaparecerão. O livro e os jornais. "Quando me dizem que descobriram uma nova tecnologia da informação, que hoje temos os livros eletrônicos, eu respondo que o livro tradicional é uma tecnologia mais avançada que já se descobriu na face da terra, porque até hoje ele continua sendo o que sempre foi. Desde aquele que se fazia com os papiros...".
Sarney relatou, durante a entrevista, que há alguns anos em um seminário da França chegou-se à conclusão que não há meios de se melhorar os livros. O que se pode fazer, disse o presidente do Senado, é tão somente criar formas de tornar os livros mais bonitos, confeccioná-los com papel de melhor qualidade, usar moderníssimas tecnologias de impressão. "Mas, na realidade, a praticidade que o livro oferece para ser lido não tem como ser superada. Primeiro, ele não precisa fonte de energia alguma e nem de ser ligado a tomada, cai e não quebra, e também não necessita substituição de peça... É muito mais fácil de ser manuseado, você viaja com ele e o abre onde quiser, dentro de um ônibus, de um avião, em casa deitado, no banheiro, em qualquer lugar você tem essa facilidade, isso desde a época que foi inventado".
Para usufruir o que um livro proporciona não é necessária habilidade alguma adicional, somente precisa de uma coisa que todo mundo deve aprender e que é a base da educação: saber ler, disse o presidente do Senado. "Por tudo isso eu acredito que nós não devemos ter receio de que em algum momento o livro tradicional possa desaparecer e ser substituído pelas novas tecnologias", afirmou. José Sarney disse que como qualquer novidade que surja no mercado, o livro eletrônico suscita curiosidade. "Eu mesmo tenho um, não tive nenhum gosto, ao contrário, foi dinheiro jogado fora. Não me serve para nada", lastimou.
De acordo com o presidente do Senado, o livro tradicional tem a capacidade de gerar, naquele que realmente sente prazer com a leitura, o gosto táctil do seu manuseio. "Com o hábito de ler é criada uma espécie de relação entre o livro e o leitor, uma certa individualização entre aquele exemplar e o seu dono, que não se observa com aparelho eletrônico algum", explicou. Ademais, disse Sarney, por meio das diversas edições de um livro é possível ter uma visão do progresso da humanidade. "Por tudo isso eu creio que o livro jamais desaparecerá. Ele é um amigo que Deus me deu desde quando nasci - um amigo que acompanha em todos os momentos - que me dá condições de consultá-lo a qualquer momento, de estar sempre ao meu lado, de tomar seus conselhos. Para mim, o livro realmente é uma descoberta excepcional e que será sempre insubstituível", avaliou Sarney
O Senado e a formação de leitores
José Sarney também discorreu, durante a entrevista, sobre a política editorial do Senado Federal de resgatar importantes obras da cultura brasileira, muitas delas já esquecidas pelos leitores brasileiros. "É um trabalho executado pela Gráfica do Senado", ressaltou. Sarney relatou que a Gráfica do Senado foi criada no tempo do senador Auro de Moura Andrade, para dar sustentação à publicação dos atos oficiais do Senado e do Congresso Nacional. Naquela época, o diário de todo o Poder Legislativo era mandado publicar na Imprensa Nacional, que às vezes retardava algumas edições. "Criou-se certo atrito e para independência dos poderes se tornar efetivo, porque a publicidade de todos atos é obrigatória, foi criada a Gráfica do Senado", rememorou. Como a capacidade de produção ficava ociosa em determinados dias e épocas do ano, nasceu a idéia de aproveitá-la com outras produções. "Começamos com publicações técnicas, e depois, com a criação de um Conselho Editorial, tivemos a oportunidade de resgatar a história do parlamento brasileiro. Sabemos que muitas desses livros não são de interesse do mercado editorial e dessa forma muitas dessas obras já estavam fora de circulação. "Embora desatualizadas, elas representam um marco importante para a formação cultural do Brasil", afirmou.
Graças à produção da Gráfica do Senado já foram editados mais de mil livros. "Alguns desses são obras raras como as Ordenações Afonsinas", ressaltou. Tal compilação, que surgiu no século XV, sob o reinado de João I, constituiu a base do direito português até a promulgação dos sucessivos códigos do século XIX. Algumas de suas disposições tiveram vigência no Brasil até o surgimento do Código Civil de 1916. "Essa obra nunca tinha sido publicada no Brasil, e hoje seus exemplares, publicados aqui no Senado, são disputadas pelos advogados com uma raridade bibliográfica", afirmou.
Mas, o gosto pela leitura não é despertado apenas pela apreciação de obras raras, pelos avanços da tecnologia e nem somente por políticas públicas. Para Sarney, é uma tarefa de todos que devem cultivar o hábito de ler e incentivar os mais jovens o gosto pela leitura. Segundo o presidente do Senado, há uma tendência no Brasil de acreditar que com somente as leis é possível se resolver os problemas, tal como a falta do hábito de ler entre a população. "Eu mesmo sou autor de um projeto para difundir o gosto pela leitura e de várias outras iniciativas, entre as quais a criação de um fundo de incentivo para as editoras, que, contudo não prosperou. Posso dizer que não por causa do poder publico, mas sim porque as empresas privadas e as editoras nunca conseguiram se organizar e promover ações efetivas para a difusão da leitura", argumentou. Para José Sarney, entretanto, o poder público deve insistir na tentativa de difundir o hábito da leitura: "Nós devíamos ter um fundo estatal que pudesse juntar a esse fundo privado, e que fossem feitas campanhas específicas para popularizar a leitura em nosso país".
Segundo o presidente, concomitantemente com a disseminação do hábito da leitura é possível melhorar o nível de educação de um povo. "Eu não acredito que país algum possa ser uma potência, política, econômica ou militar se não for uma potência cultural. Os Estados Unidos, por exemplo, têm como terceiro item de exportação a cultura, que faz parte de seu poderio e de seu desempenho tecnológico. Já ouvi dizer que o Bill Gates da Microsoft confessou que começou toda sua fortuna lendo um livro.
Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado