Um novo capítulo do descaso com o dinheiro público ganha destaque nacional. A pequena cidade de Arari, no Maranhão, tornou-se símbolo da falta de transparência na destinação de recursos públicos após o sumiço de R$ 1,25 milhão, valor repassado por meio de emenda parlamentar para recuperação de estradas vicinais do município na gestão passada.
O recurso, de autoria do deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA), foi destinado à cidade em agosto de 2023 e efetivamente creditado na conta da prefeitura. No entanto, como apontam moradores e a própria atual gestão municipal, o dinheiro nunca chegou ao seu destino final: as obras de infraestrutura prometidas não saíram do papel.
A denúncia ganhou repercussão nacional após reportagem publicada por O Globo, revelando que a verba sumiu ainda durante a gestão do ex-prefeito Rui Filho (União Brasil), adversário político da atual prefeita, Maria Alves Muniz (MDB).
“Esse valor simplesmente desapareceu. Não foi para obra nenhuma”, afirmou a prefeita, alegando ter recebido a prefeitura com as contas zeradas e sem qualquer vestígio do montante milionário.
O caso de Arari se insere em um contexto mais amplo e preocupante: o descontrole no uso das chamadas emendas parlamentares, cujos rastros são, muitas vezes, apagados por uma teia de burocracia, má gestão e interesses políticos. O Supremo Tribunal Federal já colocou o tema sob investigação, diante de indícios de desvios e uso irregular dessas verbas em diversos municípios do país.
Realidade esquecida: lama, isolamento e promessas
Enquanto o escândalo circula pelos corredores de Brasília, quem sente o impacto direto da ausência das obras é a população de Arari. A lavradora Dulce da Conceição Bezerra da Costa resume a frustração dos moradores da zona rural:
“Ano passado ficamos 20 dias sem poder sair daqui. A estrada é tudo para nós: é para ir ao hospital, fazer compras, levar as crianças à escola. Sem estrada, a gente fica isolado.”
Promessas de campanhas anteriores de antigas gestões, inclusive as que justificaram a emenda, viraram apenas isso: promessas. Sem obras, sem transparência e sem respostas claras sobre o paradeiro do recurso, Arari agora carrega o peso de ser mais um retrato do velho e repetitivo enredo da má gestão pública.
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