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sábado, 15 de janeiro de 2011

Analistas: queda do governo libanês mostra força do Hezbollah


TERRA

O colapso do governo de união nacional do Líbano após a renúncia de 11 ministros nesta quarta-feira, expôs o tamanho do poder do grupo xiita Hezbollah, que usou sua influência política junto aos seus aliados para derrubar o governo do primeiro-ministro Saad al-Hariri, disseram analistas ouvidos pelo Terra.

Para os analistas, o futuro do país estará nas mãos do presidente libanês, Michel Suleiman, que será deverá dissolver o gabinete, apontar um governo provisório e negociar uma saída para a crise política do Líbano. Nesta quarta-feira, o ministro de Energia, Jubran Bassil, anunciou em uma coletiva para emissoras de televisão a renúncia dos 10 ministros da oposição, incluindo os do Hezbollah.

Após o anúncio de Bassil, o ministro de Estado, Adnan Sayyed Hussein, um aliado do presidente Suleiman, também declarou que estava deixando o governo de 30 ministros de Hariri.

Segundo Fares Ishtay, professor de Ciência Política da Universidade Libanesa, a renúncia dos ministros foi uma articulação política do Hezbollah que certamente vinha sendo preparada há um bom tempo. "O recado do Hezbollah foi claro, de que qualquer ameaça a seu poder e status quo no Líbano terá consequências imediatas na vida política no país", disse ele.

A crise libanesa vem se arrastando há vários meses em torno do Tribunal das Nações Unidas (ONU) que investiga o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik al-Hariri, em 2005. O tribunal da ONU deverá indiciar membros do grupo Hezbollah por participação no atentado à bomba que matou Hariri, pai do atual primeiro-ministro. O grupo xiita Hezbollah nega qualquer participação no assassinato e acusa o tribunal de "politizado" e de servir aos interesses dos Estados Unidos e Israel.

A oposição vinha tentando convencer Saad Hariri a rejeitar os resultados do tribunal. Mas ele declarou que não deixaria de apoiar a corte internacional, em parte financiada pelo Líbano. Na coletiva, a oposição esclareceu que a decisão de renunciar se deu depois que um pedido para uma reunião de gabinete para discutir o tribunal foi negada por Hariri, que se encontrava em uma reunião com o presidente americano Barack Obama.

Perigo nas ruas
Para o analista político Oussama Safa, diretor do Centro Libanês de Estudos Políticos de Beirute, se não houver uma ação rápida do presidente para conter a crise, o país poderá mergulhar num caminho sem volta que levará a confrontos entre militantes de facções rivais e paralisação das instituições governamentais.

"A maior missão de Suleiman será conter o enorme influência política que o Hezbollah exercer sobre seus aliados e convencer o partido xiita a se reaproximar e conversar com Hariri", salientou Safa ao Terra. Fares Ishtay alerta que uma falta de resolução da crise e os indiciamentos do tribunal internacional contra membros do Hezbollah poderão levar a uma situação irreversível.

"O indiciamento do tribunal levará a uma situação extrema de nervosismo entre governistas e oposição. Caso uma mediação para resolver o impasse não dê resultado, não podemos descartar confrontos armados entre os dois lados".

A Síria, aliada do Hezbollah, e a Árabia Saudita, que apóia Saad Hariri, vinham tentando mediar a crise libanesa há alguns meses, mas na terça-feira anunciaram que seus esforços haviam falhado. Segundo Oussama Safa, o presidente Michel Suleiman ainda pode salvar o cenário político se agir rapidamente. "Ele tem boas relações com os lados, e deverá achar um compromisso mútuo entre os envolvidos para evitar que o pior aconteça. E o pior é que os dois lados políticos resolvam usar a força".

Atentos aos acontecimentos nas ruas, a população libanesa se mostra apreensiva e teme que os confrontos armados possam ocorrer como os de 2008, quando facções governistas e militantes do Hebzollah e aliados se enfrentaram na capital Beirute, quase levando o país a uma guerra civil.

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