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Mensagem da Semana

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Apocalipse 22:12

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ferreira Gullar prevê fim dos jornais impressos

A Folha,Ferreira GullarAinda no final dos anos 1950, os jornais brasileiros usavam, na redação das notícias, o que se chamava “nariz de cera”.
Era o seguinte: a notícia propriamente dita era antecipada por considerações efetivamente desnecessárias. Por exemplo, se a notícia era um assassinato, antes de contar o que ocorreu, chamava a atenção para o aumento da criminalidade.
Naqueles anos, a única exceção era o “Diário Carioca”, que adotara a técnica do “lide” e do “sublide”, inventada pelo jornalismo norte-americano. Tomei conhecimento disso em 1957, quando fui acolhido pelo simpático matutino, no qual trabalhavam Carlos Castelo Branco, Pompeu de Souza e Prudente de Morais Neto, entre outros.
Se o clima da Redação era de brincadeira, as notícias eram redigidas objetivamente, pois consistiam em responder às seguintes perguntas: o que, quem, quando, onde e por quê.
Considerações críticas ou opiniões o leitor encontrava na página editorial do jornal, não na notícia, que devia informar ao leitor o que efetivamente ocorreu.
Esse tipo de jornalismo moderno só havia no “Diário Carioca”, até que a Condessa Pereira Carneiro, dona do arcaico “Jornal do Brasil”, decidiu modernizá-lo. Ela tomou essa decisão influenciada pelo suplemento dominical de seu jornal, inventado por Reynaldo Jardim e que se tornara um exemplo de criatividade na imprensa do país.
Para efetivar a modernização do “JB”, chamou Odylo Costa Filho, que era maranhense, como seu falecido marido. A renovação efetivamente se deu quando foi para lá o trio que já tentara renovar a revista “Manchete”: Jânio de Freitas, Amilcar de Castro e, modéstia à parte, eu.
Tínhamos sido demitidos daquela revista por insistirmos em valorizar o espaço em branco nas páginas. Adolpho Bloch, dono da “Manchete”, ficou furioso, o que levou o cartunista Borjalo a escrever num quadro negro que havia na Redação: “Preconceito de cor: guerra contra o branco”.
Já Odylo, ao contrário de Adolpho, era tolerante. Não só aceitou o uso do “lide” e “sublide” como permitiu as mudanças drásticas na feição gráfica do jornal. E veja que se tratava de um jornal de anúncios classificados, que nem corpo de repórter e redatores possuía, antes da mudança.
Pois bem, uma das inovações foi retirar o fio negro que separava as colunas de textos nas páginas, já que, para Amilcar, bastava o espaço em branco entre elas. Disso resultou uma leveza visual que nenhum jornal tinha.
Outra inovação, que se deveu ao Jânio, foi o modo de usar a primeira página. Até então, no “JB” como nos demais jornais, as notícias mais importantes começavam na primeira página e continuavam em alguma página de dentro.
Jânio mudou isso: as notícias importantes eram postas resumidamente na primeira página e integralmente numa página de dentro reservada àquele assunto: se fosse política, ia para a página de política, fosse economia, para a página de economia.
Isso significava uma revolução no modo de estruturar o jornal e que ia se impor no futuro.
Hoje, todos os jornais têm páginas específicas para diferentes assuntos, o que facilita ao leitor encontrar o que deseja ler e também ajuda na composição do jornal, tanto do ponto de vista gráfico quanto redacional. Mas começou ali, no “JB”.
Naturalmente, as mudanças verificadas na imprensa não se limitam a essas a que me referi. Minha intenção, ao falar delas, foi sobretudo informar o leitor de hoje daquele momento marcante do jornalismo brasileiro.
De lá para cá, muitas mudanças ocorreram, particularmente devido à televisão e, sobretudo, à internet. Os jornais já não têm o monopólio da informação. Pode-se dizer mesmo que nenhuma notícia importante, que os jornais publicam, não terá sido difundida antes por aqueles meios de comunicação.
Por outro lado, todos os jornais publicam as mesmas notícias, o que os obrigou a se valerem das colunas assinadas por nomes destacados, nem sempre jornalistas, que oferecem ao leitor algo que ele só pode encontrar ali, naquele jornal.
É o que a imprensa escrita está fazendo para sobreviver, não se sabe até quando, pois, ao que tudo indica, os atuais leitores deixarão as páginas de papel impresso pela tela dos computadores e dos celulares

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