
Cerca de 2,7 milhões de líbios estão autorizados a participar do pleito, representando proporcionalmente a população total de 6 milhões de habitantes espalhados pelas 72 circunscrições do país. Eleitores votarão para eleger os 200 políticos que formarão o Congresso. Destes 200 assentos, 120 serão preenchidos por candidatos independentes e 80 por movimentos políticos - divisão adotada para evitar o eventual de um único partido. Há 2,5 mil indivíduos correndo às 120 cadeiras independentes. Às 80 restantes concorrem 500 candidatos de listas partidárias.
A função primordial do Congresso Nacional Líbio será substituir o Conselho Nacional de Transição, em torno do qual a oposição síria se organizou durante o levante popular de 2011 e responsável pela liderança do país após o fim de Kadafi. Caberá ao Congresso Nacional Líbio, uma vez formado, o início de um novo governo democrático. Por ele passará a tarefa da formação de um grupo que redigirá uma Constituição - entidade inexistente durante os 42 anos de Kadafi, que baseava seu governo em um famoso 'Livro Verde' que ditava em linhas pouco claras como o Estado líbio deveria ser organizado.
Sob diversos aspectos, as primeiras eleições livres em quase meio século da Líbia representam o maior desafio democrático desde o início da chamada Primavera Árabe. O país chega a este momento após a guerra da queda do regime de Kadafi, mais sangrenta, longa e devastadora que os protestos e confrontos que levaram ao fim dos governos de Ben Ali, na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egito. E se o contexto é o mais desgastado, o ambiente eleitoral é também o menos desenvolvido, pois a ditadura centralizadora e personalista de Kadafi virtualmente extirpou o sistema político do país.
Os partidos políticos já estavam proibidos antes mesmo do golpe de Kadafi, em 1969. Agora, três tiveram destaque. Dois são islamitas: o Partido da Justiça e da Construção (PJC), um braço da Irmandade Muçulmana, e o Al-Watan, do polêmico ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj. O terceiro é de liberais, reunidos em uma coalizão lançada por Mahmud Jibril, ex-premiê do Conselho Nacional de Transição.
Arrasada pela guerra e verde na democracia, a Líbia é ainda um país perigosamente marcado por uma forte divisão de tribos e grupos. Além de confrontos persistentes entre milícias e revolucionários, há líbios berberes, tuaregues e tebous e moradores da região de Bengazi, conhecida como a capital da resistência revolucionária durante os meses de guerra contra o governo de Kadafi.
Uma das grandes incertezas é o mosaico político que se formará a partir de um país fragmentado entre tantos grupos e de desenvolvimento democrático tão incipiente. Uma das maiores dúvidas é se o país seguirá o movimento de fortalecimento da política islâmica, conforme já verificado nas primeiras eleições pós-Primavera de Tunísia, Egito e Marrocos.
Com informações de AFP, BBC, EFE e Reuters.
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