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Quatro deputadas do partido islâmico-conservador no poder participaram na sessão do Parlamento nesta quinta-feira (31) usando o véu islâmico, um fato inédito há 14 anos na Turquia.
As deputadas foram eleitas no pleito legislativo de 2011 nas listas do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamita moderado) do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
Erdogan aboliu recentemente a proibição de usar véu islâmico na função pública.
Assim, elas decidiram comparecer à sessão iniciada às 10h no horário de Brasília no Parlamento, considerado um local público.
As deputadas concluíram há pouco tempo a peregrinagem a Meca, um dos pilares do Islã, e decidiram usar o véu, pela primeira vez em suas vidas, na função pública.
"Espero que todos respeitem a minha decisão. O véu é uma questão entre o fiel e seu Deus", declarou uma delas, Gönül Bekin Sahkulubey, citada pela imprensa.
A oposição pró-laica na Assembleia Nacional, liderada pelo Partido Republicano do Povo (CHP), denunciou uma campanha política do AKP antes das eleições municipais de março 2014.
"O poder só se lembra da religião perto das eleições", criticou Muharrem Ince, influente deputado do CHP.
"O que nós iremos fazer se deputadas se apresentarem na sala com uma burca?"', questionou Engin Altan, também do CHP.
Portar o véu islâmico na função pública era estritamente proibido até o início de outubro.
Quarta-feira à noite, o chefe de governo defendeu a posição das deputadas, afirmando que elas estavam apenas respeitando sua religião.
Ele também rejeitou qualquer tática política. 'A oposição diz (que o véu) é um símbolo político. Eles são tão ignorantes que não sabem nem mesmo que o véu é uma obrigação da nossa religião', declarou.
A liberação do véu em todos os locais, principalmente públicos, era uma reivindicação do islã político na Turquia desde os anos 1970.
As esposas da maioria dos dirigentes turcos usam véu.
Em 1999, a deputada turco-americana Merve Kavakci foi ao parlamento com véu islâmico para sua cerimônia de posse, da qual foi excluída. Posteriormente, abriu mão da nacionalidade turca.
Mas o cenário político turco mudou muito desde então, e o véu faz parte da vida social.
"Podemos considerar a chegada ao Parlamento de deputadas com o véu islâmico uma revanche histórica do caso Merve Kavakçi", comentou o jornal liberal "Milliyet".
O AKP já havia legalizado o uso do véu nas universidades em 2008.
A oposição e círculos pró-laicos acusam o governo de abrir uma nova brecha na laicidade.
Ao longo da última década, desde a chegada ao poder do AKP, as instituições que eram bastiões do secularismo, como o exército e a justiça, foram perdendo prerrogativas através de reformas do governo.
A laicidade permanece inscrita na Constituição turca, uma herança daquele que os turcos consideram como o pai da nação, Mustafa Kemal Atatürk.
Acusado de tentar 'islamizar' a Turquia, o partido no poder já provocou uma onda de protestos após várias medidas, como a restrição da venda e consumo de álcool, proibido pelo Islã.
Em junho, 2,5 milhões de pessoas protestaram nas ruas contra a política autoritária de Erdogan.
De acordo com pesquisas de opinião, os turcos se tornaram mais conservadores como o AKP e dois terços das mulheres agora usam o véu.
BA/ia/mr
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