POR JULLY CAMILO e OSWALDO VIVIANI
Centenas de beneficiários continuaram acorrendo ontem às agências da Caixa Econômica Federal (CEF) e casas lotéricas de várias partes do país, devido a boatos de que o programa federal Bolsa Família iria acabar (e quem não sacasse o dinheiro logo, perderia o valor) e que seria pago um abono referente ao Dia das Mães. Uma greve nacional dos trabalhadores da Caixa também foi falsamente difundida. E São Luís, onde as pessoas começaram a lotar as agências e as lotéricas no sábado (18) e no domingo (19), ontem (20) não foi diferente, apesar de desmentidos tanto por parte da Caixa como do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Ao menos três agências da Caixa sofreram danos causados pelos tumultos. A Polícia Federal (PF) está investigando a origem da boataria.
O superintendente da Caixa no Maranhão, Hélio Luiz Duranti, disse ontem ao Jornal Pequeno que os boatos teriam começado na Região Norte – informação que ainda está sendo apurada pela PF.
“Tomamos conhecimento dos boatos na sexta-feira (17), à noite. No sábado pela manhã adotamos medidas de informação e prevenção. Ou seja, deslocamos funcionários para as 39 agências existentes em todo o Maranhão para esclarecer que os fatos divulgados eram inverídicos. Contamos ainda com o apoio da polícia para evitar possíveis depredações e garantir a integridade física dos funcionários e de nossos clientes”, declarou Duranti.
De acordo com o superintendente, a Caixa informou aos inscritos no programa que não haveria nenhum bônus extra. Porém, para evitar tumultos, já que os usuários estavam no interior das agências, o banco liberou, durante todo o fim de semana, os saques do mês. Ontem, a Caixa já voltou a operar com o calendário normal.
“Felizmente, só registramos um movimento fora do comum em 13 agências em todo o estado, sendo quatro na capital, Guajajaras, São Francisco, Deodoro e Cohab. Nesta última, uma parte da porta de vidro foi quebrada e alguns caixas ficaram com os leitores de cartão sem funcionar. Entretanto, não atribuímos esses incidentes a atos de vandalismo, mas sim à superlotação e ao grande movimento nos terminais eletrônicos”, afirmou o superintendente da Caixa.
Ministra Maria do Rosário culpa oposição pelo boato
A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) afirmou na manhã de ontem (20), em sua conta no Twitter, que “boatos sobre fim do Bolsa Família devem ser da central de notícias da oposição”. “[O boato] revela posição ou desejo de quem nunca valorizou a política.”
Na mensagem, a ministra não dá nenhum tipo de detalhe do motivo pelo qual aponta a oposição como culpada pelos rumores que levaram tumultos e confusões a agências bancárias e lotéricas no fim de semana.
A Polícia Federal investiga o caso e, até ontem, não divulgou nenhum indício sobre quem e como espalhou o boato de que o Bolsa Família seria suspenso.
Em entrevistas, outros dois ministros, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social), vieram a público para negar o boato, que atingiu cidades no Norte, Nordeste e no Rio, criando caos em agências da Caixa Econômica Federal.
Cardozo, porém, afirmou todas as possibilidades estão sendo consideradas, inclusive a de motivação política. “Ao que parece, não foi mero acaso, e nenhuma hipótese pode ser descartada”, disse o ministro.
O Bolsa Família é o principal programa de transferência direta de renda do governo. Ele tem forte peso político-eleitoral, tendo virado um dos símbolos das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
A ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, assegurou a continuidade do programa. Segundo ela, a verba prevista para o Bolsa Família este ano é de R$ 24 bilhões.
“Não adianta antecipar se houve motivação política no caso. Já está tudo sendo investigado. Esperamos que tenha sido somente um mal-entendido com dimensões muito acima do esperado. Duvido que alguém ache que pode ganhar alguma coisa difundindo esse tipo de informação”, disse ontem Tereza Campello.
A notícia sobre o suposto fim do programa levou grande quantidade de pessoas a procurar as agências para sacar o dinheiro do programa. As aglomerações continuaram ontem.
‘Comentário inocente’ – À Folha, a ministra Maria do Rosário disse que fez um “comentário inocente” e que não tem nenhuma informação nova sobre o que de fato ocorreu. “Fiz um comentário por avaliar que, no mesmo fim de semana da convenção tucana [que tornou Aécio Neves presidente do PSDB], tem o boato do Bolsa Família. Foi um comentário, digamos, fora do horário de expediente. Foi apenas um comentário [sobre] a quem interessa [o boato].” (Folha Online)
Para oposição, declaração de ministra foi ‘irresponsável’
Líderes oposicionistas reagiram ontem (20) e disseram ser “irresponsável e leviana” a declaração da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) responsabilizando a “central de notícias da oposição” pelos boatos sobre o fim do Bolsa Família, principal programa social do governo.
A fala da ministra foi publicada ontem em sua conta no Twitter. No fim de semana, uma onda de boatos provocou tumulto em pelo menos dez estados, levando milhares de pessoas a lotéricas e agências da Caixa Econômica Federal, para sacarem seus benefícios. Pessoas passaram mal e desmaiaram. Houve brigas e terminais foram depredados.
Segundo o vice-líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), a ministra coloca em dúvida a apuração que será feita pelo governo.
“Se o governo anunciou que vai investigar, como pode antecipar-se e acusar irresponsavelmente a oposição?”, questionou o tucano. “Poderíamos dizer que foi o governo que agiu dessa forma para prejudicar a oposição, mas não somos irresponsáveis de fazermos essa acusação”, completou.
Álvaro Dias afirmou que “qualquer que seja o objetivo do boato é um desrespeito especialmente àqueles que se beneficiam do programa”.
Para o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), a ministra precisa apontar quem da oposição estaria interessado nessa ação e quais seriam os motivos para deflagrar essa operação.
“De um ministro se admite tudo, menos leviandade. A oposição tem rosto, então, nomine quem da oposição [fez o boato]“, afirmou.
Agripino disse que o Planalto deve estar preocupado porque o caso mostrou que o programa não tem resultado prático.
“O governo deve estar inquieto porque não está cumprindo seu objetivo de tirar as pessoas da miséria. Quando veio a notícia de que iria falhar, ficou evidente que o programa não deu alternativa para as pessoas.”
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), vai propor que a Comissão de Segurança da Casa convoque a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) para dar explicações sobre a sua declaração.
“Tenho uma profunda admiração pela ministra Maria do Rosário e custo a acreditar que uma declaração de tamanha irresponsabilidade tenha partido dela. Estou apresentando o requerimento de convocação da ministra na Comissão de Segurança para dar a ela a oportunidade de retratar-se”, afirmou.
O tucano cobrou celeridade do governo na investigação. “O governo tem de usar todos os seus instrumentos de investigação para descobrir com a máxima urgência a origem da boataria para que os responsáveis sejam punidos com rigor. É uma atitude criminosa, que afeta a população mais carente”, afirmou Sampaio.
O presidente da MD (Mobilização Democrática), deputado Roberto Freire (SP), disse que Maria do Rosário tem uma postura “irresponsável”.
“Isso mostra que o governo não tem limite em sua desfaçatez. Essa é uma declaração irresponsável”, afirmou. “Não faz o menor sentido. Nas eleições, por exemplo, a oposição é sempre acusada injustamente e de forma eleitoreira de querer acabar com o programa”. (Folha Online)
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