A jornalista Mary Zaidan, tarimbada repórter de Política que já trabalhou na Redação dos principais jornais do País, fez neste final de semana uma acurada análise da influência do ex-ministro José Dirceu na política brasileira, mesmo depois de condenado pelo STF no escândalo do mensalão. A jornalista afirma que Dirceu assumiu o papel de fiscal do senador José Sarney (PMDB-AP) e, no final de abril passado, veio ao Maranhão com a missão específica de proibir críticas de militantes do PT ao governo de Roseana Sarney (PMDB):
“Foi ele – José Dirceu – quem intercedeu em favor da governadora do Roseana Sarney para que o PT suspendesse as críticas a ela nas inserções regionais do partido na TV. Os 30 segundos de propaganda traziam elogios aos feitos de Lula e Dilma Rousseff em contraponto à triste realidade maranhense”, afirma Mary Zaidan.
Ela relata críticas de petistas que foram à TV dizer que o Maranhão continua ostentando os piores indicadores sociais do país, na contramão dos esforços feitos pelo governo federal. Leia na íntegra o artigo publicado pela jornalista:
Dirceu, Fiscal do Sarney
Por Mary Zaidan
José Dirceu é mesmo o máximo. Ministro-chefe da Casa Civil e homem de confiança do presidente Lula, foi desapeado do Planalto em junho de 2005 quando as denúncias do mensalão começaram a esbarrar no chefe-maior, que o tinha como capitão do time. No fim do mesmo ano teve seu mandato de deputado federal cassado.
De lá para cá, mesmo com direitos políticos suspensos até 2015, Dirceu, ao contrário do que se poderia supor, só ganhou poder. Aproximou-se da nata empresarial, para a qual presta serviços de consultoria, vendendo caro seu trânsito e influência. Embora visivelmente baqueado, não perde a pose. Continua poderoso mesmo depois de condenado pela Suprema Corte. Dá ordens, manda e desmanda.
Na última semana de abril foi ele quem intercedeu em favor da governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) para que o PT suspendesse as críticas a ela nas inserções regionais do partido na TV. Os 30 segundos de propaganda traziam elogios aos feitos de Lula e Dilma Rousseff em contraponto à triste realidade maranhense:
“O Maranhão continua ostentando os piores indicadores sociais do país. Somos os piores na Saúde e na Educação. Vivemos num estado de profunda insegurança, medo e violência, que aterroriza todos nós. Com o PT, haveremos de inaugurar um tempo de mudança, renovação e esperança para o Maranhão”.
A filha de José Sarney não teve dúvidas: reclamou com Dirceu e, rapidamente, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, mandou suspender o comercial. Parece uma questiúncula local, mas não é. Dirceu dá as cartas em várias instâncias do PT. Em uma frente, percorre o País fazendo-se de vítima, encarnando o injustiçado por um julgamento político.
Na outra, interfere nas pautas do partido. Saem dele os discursos mais contundentes sobre reforma política – financiamento público de campanha e voto em lista – e de controle mais ferrenho da mídia, que o PT chama de democratização.
Chega ao cúmulo de querer escalar o papel dos ministros do Supremo Tribunal Federal, requerendo que o presidente da Corte seja afastado da função de relator no julgamento dos recursos do mensalão.
E, assim como fez no Maranhão, mete a mão também nas brigas locais. Quando o País lutava contra a inflação galopante, buttons com os dizeres “Eu sou fiscal do Sarney” tomaram as ruas. Quem diria que 27 anos depois Dirceu passaria a ostentá-lo.
Não como os brasileiros crédulos de 1986, que apostaram cegamente nas pirotecnias do Plano Cruzado. Mas para proteger o rei do Maranhão, que sobrevive da miséria de seu Estado natal. Ao que parece a dívida com os Sarneys não é apenas alta. É impagável.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência ‘Lu Fernandes Comunicação e Imprensa’. Escreve aos domingos no Blog do Noblat. @maryzaidan. Do jornal Pequeno.
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