A Procuradoria-Geral da República (PGR) vai fazer uma varredura em ao
menos R$ 62,6 milhões de doações eleitorais declaradas à Justiça para
verificar se dinheiro desviado da Petrobras foi destinado por
empreiteiras para abastecer campanhas.
A suspeita é que parte da
propina de empresas a políticos e a partidos tenha sido paga por meio de
doações registradas para campanha. Os recursos, na verdade, viriam de
contratos superfaturados de obras da Petrobras.
A apuração será
realizada nas prestações de contas de 2010 de siglas e de políticos que
tiveram pedido de investigação autorizado pelo STF (Supremo Tribunal
Federal).
Nos pedidos, a PGR questionou R$ 32,8 milhões de
contribuições de empreiteiras para o PMDB, R$ 9,8 milhões ao PT e R$ 9
milhões ao PSDB.
Também suspeita das doações oficiais recebidas
diretamente por ao menos 15 políticos, em valores que somam cerca de R$
11 milhões.
Em sua delação premiada, o ex-diretor da estatal Paulo
Roberto Costa disse que doação eleitoral é “a maior balela” que existe
no país: “Seja oficial ou não oficial, não são doações, são empréstimos.
A empresa está emprestando pro cara e depois vai cobrar.”
Também
em delação, o doleiro Alberto Youssef listou congressistas e partidos
como beneficiários de propinas disfarçadas de doações legais.
Nas petições ao STF, a PGR usa termos contundentes para insinuar a ligação de políticos com doações suspeitas.
Nos
casos dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os pedidos dizem que os diretórios do
partido receberam “vultuosos valores” de empresas envolvidas em
“corrupção de parlamentares”.
Num trecho sobre a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR), pede-se para que a “autoridade policial” pesquise
doações de empreiteiras recebidas por ela e pelo sigla.
A menção
ao PSDB aparece no trecho que aborda a suposta ação da oposição, por
meio do senador Sérgio Guerra (morto em 2014), para enterrar uma CPI
sobre o Petrobras em 2009. A PGR diz que os R$ 9 milhões doados pela
Queiroz Galvão à direção e ao comitê financeiro tucanos “merecem
registro”.
As insinuações da PGR não recaem sobre todos que receberam doações de firmas investigadas na Lava Jato.
Os
senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Ciro Nogueira (PP-PI), por exemplo,
receberam doações de empreiteiras suspeitas, mas elas não foram citadas
pela PGR no pedido de investigação.
Em dois episódios detalhados
por Youssef, as doações de campanha apontadas pelo doleiro como propina
estão formalmente declaradas à Justiça Eleitoral.
Em um deles, o
delator dá detalhes sobre um e-mail obtido pela investigação em que um
diretor da Queiroz Galvão solicita recibos de doações de até R$ 500 mil
para quatro candidatos e quatro diretórios partidários. Na lista, estão
repasses para o deputado Nelson Meurer (PP-PR) e para o ex-deputado
Mário Negromonte (PP-BA).
O presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO),
é citado como beneficiário de uma doação de R$ 500 mil para o diretório
da sigla em Rondônia.
Em outra ocasião, Youssef disse que
conseguiu R$ 400 mil em doação para o senador Benedito de Lira (PP-AL).
Segundo ele, o repasse, feito pela empresa Constran, do mesmo dono da
UTC, foi “abatido” do caixa de contratos da área de abastecimento da
Petrobras.
Uma dificuldade na apuração é o fato de a receita da
campanha de 2010 de muitos dos envolvidos ser formada por repasses do
caixa dos partidos, sem origem identificada. Eram as chamadas “doações
ocultas”, hoje abolidas.
No pedido de investigação sobre o senador
Lindbergh Farias (PT-RJ), a PGR mira em R$ 9,8 milhões repassados a ele
pela direção do PT. Além disso, o petista recebeu outros R$ 2,5 milhões
diretamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário