O primeiro-ministro Silvio Berlusconi confirmou nesta quarta-feira que renunciará após implementar reformas econômicas urgentes que a União Europeia exige da Itália, e defendeu que o país em seguida realize eleições antecipadas, nas quais ele não concorreria.
-Precisamos dar à Europa e ao mundo um sinal urgente e forte de que estamos levando as coisas a sério-, disse ele por telefone a um programa matinal de TV.
Na manhã desta quarta-feira, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, pediu um compromisso imediato para a adoção das reformas de modo a restaurar a confiança dos mercados.
Berlusconi anunciou sua renúncia na noite de terça-feira, após uma votação na Câmara dos Deputados deixar claro que ele havia perdido a maioria parlamentar. Mas ele disse que permanecerá no cargo até que o Parlamento aprove reformas orçamentárias que ajudem a Itália a lidar com sua dívida.
Após vários anos enfrentando uma série de escândalos sexuais, denúncias de corrupção e brigas com aliados, foi a economia que acabou por derrubar Berlusconi. Acuado pelos mercados, ele disse que sua decisão de renunciar seria “um gesto de responsabilidade” para o país.
Mas ele declarou ser contra a formação de um governo provisório comandado por tecnocratas, ou de um gabinete de união nacional – como querem a oposição e muitos agentes dos mercados. Para ele, a única alternativa seria antecipar eleições.
Em entrevista ao jornal La Stampa, Berlusconi propôs que elas fossem realizadas em fevereiro, e lançou como candidato o ex-ministro da Justiça Angelino Alfano, secretário do seu partido, o PDL.
-Eu renuncio assim que a lei (orçamentária) for aprovada, e, como acredito que não há outra maioria possível, vejo eleições sendo realizadas no começo de setembro, e nelas não serei candidato-, afirmou.
A demora de Berlusconi para deixar o cargo é excepcional na Itália, e vários jornais de esquerda sugeriram que ele poderia estar tentando ganhar tempo, e que acabaria por não renunciar. Mas na quarta-feira todas as suas entrevistas foram no sentido de confirmar a saída.
Alguns comentaristas dizem que o fato de Napolitano ter anunciado a renúncia de Berlusconi em nota oficial torna muito difícil para Berlusconi voltar atrás. A prioridade dele, agora, seria manter sua coalizão de centro-direita no poder.
Câmara e Senado devem votar neste mês as reformas orçamentárias, mas talvez a oposição tente antecipar o processo para apressar o fim do governo de Berlusconi, um extravagante magnata da mídia, que há 17 anos domina a política italiana.
Quando um governo cai, é dever do presidente apontar um novo líder para tentar construir uma maioria parlamentar, ou convocar eleições. Napolitano disse que vai iniciar as consultas com os partidos depois da aprovação das medidas orçamentárias.
Embora o partido de Berlusconi queira novas eleições, a oposição deseja a formação de um governo de união nacional.
No entanto, o primeiro-ministro deve esperar a aprovação do pacote para somente depois dar início às consultas aos grupos políticos italianos sobre o futuro do país.
Juros
O anúncio de Berlusconi não adiantou para evitar a disparada nos custos da dívida italiana, cujos títulos de dez anos já estão pagando mais de 7% de juros anuais, patamar considerado limite para evitar um calote do governo.
Este é o maior nível do custo de endividamento da Itália desde a criação do euro, em 1999.
Enquanto isso, uma delegação da União Europeia (UE) está em Roma nesta quarta-feira para observar as medidas tomadas pela Itália para evitar o agravamento da crise na zona do euro.
As autoridades querem saber, entre uma longa lista de itens, como o governo planeja vender estatais, como vai reduzir sua enorme dívida e como pretende cortar o déficit previdenciário.
O Comissário da União Europeia para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, descreveu a situação italiana como “muito preocupante”.
Dívida astronômica
Teme-se que as dúvidas sobre a capacidade italiana de honrar os compromissos de sua dívida astronômica gerem uma crise política como a que está abalando a Grécia.
No entanto, analistas veem a situação com maior preocupação do que episódios passados da crise europeia. Isso porque a Itália é a terceira maior economia da zona do euro.
Segundo Gavin Hewitt, editor para Europa da BBC, a crise italiana pode ser explicada de uma maneira simples: os mercados duvidam que Berlusconi tenha credibilidade para implementar as reformas que reduzirão a dívida do país e gerarão crescimento.
Sem isso, investidores consideram que o país está se encaminhando para um cenário em que os custos de tomar empréstimo se tornarão insustentáveis e em que o país precisará de um pacote de resgate.
O problema, para Hewitt, é que a economia italiana é tão grande – em comparação com Grécia, Irlanda ou Portugal – que a zona do euro não terá capacidade de agir.
Fortuna e poder
Assim, com os indicadores econômicos jogando claramente contra o país, aumentaram as chances de a crise econômica acabar com a carreira política de Berlusconi – o protagonista da política italiana nas últimas duas décadas.
Após três mandatos, ele é o primeiro-ministro há mais tempo no poder na Itália do pós-guerra, assim como um dos homens mais ricos do país.
O premiê de 75 anos e sua família acumularam uma fortuna estimada pela revista Forbes em US$ 9 bilhões (R$ 14,9 bilhões).
No entanto, desde que Berlusconi voltou ao poder, em 2008, a economia está em crescente tensão, com uma dívida nacional de 1,9 trilhões de euros (R$ 4,5 trilhões).
Empreendedor
O talento empresarial de Berlusconi – evidente em um império que se estende pelas áreas de mídia, publicidade, seguros, alimentação e construção – se tornou prova suficiente para muitos italianos de que ele seria apto para governar também o país.
O premiê também é dono de um dos clubes de futebol mais bem sucedidos da Itália, o Milan, e sua empresa de investimentos controla três das maiores redes de TV privadas do país. Como primeiro-ministro, ele tem ainda o poder de nomear os chefes dos três canais públicos da rede RAI.
Durante seu governo, Berlusconi conseguiu driblar uma série de escândalos sexuais, políticos e de corrupção, mas o fluxo constante de acusações contra ele fez com que muitos aliados e amigos se afastassem.
Sua segunda mulher, Veronica Lario, pediu divórcio em maio de 2009 e disse a um jornal que ela não poderia ficar com um homem que “se envolve com menores”.
Em novembro de 2010, seu ex-aliado político Gianfranco Fini pediu que ele renunciasse, quando surgiram revelações sobre uma dançarina marroquina adolescente chamada Ruby.
Batalhas legais
Nascido em Milão, Berlusconi sempre afirmou que estava sendo perseguido pelas autoridades da cidade.
Ele foi acusado de desvio de verbas, de fraude fiscal e contábil e de tentativa de subornar um juiz, mas negou ter cometido qualquer crime e nunca foi condenado de forma definitiva.
Vários destes casos foram a julgamento. Em alguns deles, Berlusconi foi absolvido e em outros, foi condenado, mas o veredicto foi derrubado com recursos. Outras vezes, limitações legais fizeram com que os casos fossem abandonados.
Em 2009, o premiê estimou que em 20 anos ele havia comparecido 2,5 mil vezes a cortes, em 106 julgamentos, com um custo legal de 200 milhões de euros (cerca de R$ 450 milhões).
Seu governo aprovou reformas que alteravam a definição legal de fraude, mas parte de uma lei de 2010 que dava a ele e a outros ministros imunidade temporária foi derrubada pela Corte Constitucional da Itália, que deixou a decisão final a cargo dos juízes.
Nascido no dia 29 de setembro de 1936, Silvio Berlusconi começou sua carreira vendendo aspiradores de pó, e trabalhou como cantor em clubes e cruzeiros.
-Precisamos dar à Europa e ao mundo um sinal urgente e forte de que estamos levando as coisas a sério-, disse ele por telefone a um programa matinal de TV.
Na manhã desta quarta-feira, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, pediu um compromisso imediato para a adoção das reformas de modo a restaurar a confiança dos mercados.
Berlusconi anunciou sua renúncia na noite de terça-feira, após uma votação na Câmara dos Deputados deixar claro que ele havia perdido a maioria parlamentar. Mas ele disse que permanecerá no cargo até que o Parlamento aprove reformas orçamentárias que ajudem a Itália a lidar com sua dívida.
Após vários anos enfrentando uma série de escândalos sexuais, denúncias de corrupção e brigas com aliados, foi a economia que acabou por derrubar Berlusconi. Acuado pelos mercados, ele disse que sua decisão de renunciar seria “um gesto de responsabilidade” para o país.
Mas ele declarou ser contra a formação de um governo provisório comandado por tecnocratas, ou de um gabinete de união nacional – como querem a oposição e muitos agentes dos mercados. Para ele, a única alternativa seria antecipar eleições.
Em entrevista ao jornal La Stampa, Berlusconi propôs que elas fossem realizadas em fevereiro, e lançou como candidato o ex-ministro da Justiça Angelino Alfano, secretário do seu partido, o PDL.
-Eu renuncio assim que a lei (orçamentária) for aprovada, e, como acredito que não há outra maioria possível, vejo eleições sendo realizadas no começo de setembro, e nelas não serei candidato-, afirmou.
A demora de Berlusconi para deixar o cargo é excepcional na Itália, e vários jornais de esquerda sugeriram que ele poderia estar tentando ganhar tempo, e que acabaria por não renunciar. Mas na quarta-feira todas as suas entrevistas foram no sentido de confirmar a saída.
Alguns comentaristas dizem que o fato de Napolitano ter anunciado a renúncia de Berlusconi em nota oficial torna muito difícil para Berlusconi voltar atrás. A prioridade dele, agora, seria manter sua coalizão de centro-direita no poder.
Câmara e Senado devem votar neste mês as reformas orçamentárias, mas talvez a oposição tente antecipar o processo para apressar o fim do governo de Berlusconi, um extravagante magnata da mídia, que há 17 anos domina a política italiana.
Quando um governo cai, é dever do presidente apontar um novo líder para tentar construir uma maioria parlamentar, ou convocar eleições. Napolitano disse que vai iniciar as consultas com os partidos depois da aprovação das medidas orçamentárias.
Embora o partido de Berlusconi queira novas eleições, a oposição deseja a formação de um governo de união nacional.
No entanto, o primeiro-ministro deve esperar a aprovação do pacote para somente depois dar início às consultas aos grupos políticos italianos sobre o futuro do país.
Juros
O anúncio de Berlusconi não adiantou para evitar a disparada nos custos da dívida italiana, cujos títulos de dez anos já estão pagando mais de 7% de juros anuais, patamar considerado limite para evitar um calote do governo.
Este é o maior nível do custo de endividamento da Itália desde a criação do euro, em 1999.
Enquanto isso, uma delegação da União Europeia (UE) está em Roma nesta quarta-feira para observar as medidas tomadas pela Itália para evitar o agravamento da crise na zona do euro.
As autoridades querem saber, entre uma longa lista de itens, como o governo planeja vender estatais, como vai reduzir sua enorme dívida e como pretende cortar o déficit previdenciário.
O Comissário da União Europeia para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, descreveu a situação italiana como “muito preocupante”.
Dívida astronômica
Teme-se que as dúvidas sobre a capacidade italiana de honrar os compromissos de sua dívida astronômica gerem uma crise política como a que está abalando a Grécia.
No entanto, analistas veem a situação com maior preocupação do que episódios passados da crise europeia. Isso porque a Itália é a terceira maior economia da zona do euro.
Segundo Gavin Hewitt, editor para Europa da BBC, a crise italiana pode ser explicada de uma maneira simples: os mercados duvidam que Berlusconi tenha credibilidade para implementar as reformas que reduzirão a dívida do país e gerarão crescimento.
Sem isso, investidores consideram que o país está se encaminhando para um cenário em que os custos de tomar empréstimo se tornarão insustentáveis e em que o país precisará de um pacote de resgate.
O problema, para Hewitt, é que a economia italiana é tão grande – em comparação com Grécia, Irlanda ou Portugal – que a zona do euro não terá capacidade de agir.
Fortuna e poder
Assim, com os indicadores econômicos jogando claramente contra o país, aumentaram as chances de a crise econômica acabar com a carreira política de Berlusconi – o protagonista da política italiana nas últimas duas décadas.
Após três mandatos, ele é o primeiro-ministro há mais tempo no poder na Itália do pós-guerra, assim como um dos homens mais ricos do país.
O premiê de 75 anos e sua família acumularam uma fortuna estimada pela revista Forbes em US$ 9 bilhões (R$ 14,9 bilhões).
No entanto, desde que Berlusconi voltou ao poder, em 2008, a economia está em crescente tensão, com uma dívida nacional de 1,9 trilhões de euros (R$ 4,5 trilhões).
Empreendedor
O talento empresarial de Berlusconi – evidente em um império que se estende pelas áreas de mídia, publicidade, seguros, alimentação e construção – se tornou prova suficiente para muitos italianos de que ele seria apto para governar também o país.
O premiê também é dono de um dos clubes de futebol mais bem sucedidos da Itália, o Milan, e sua empresa de investimentos controla três das maiores redes de TV privadas do país. Como primeiro-ministro, ele tem ainda o poder de nomear os chefes dos três canais públicos da rede RAI.
Durante seu governo, Berlusconi conseguiu driblar uma série de escândalos sexuais, políticos e de corrupção, mas o fluxo constante de acusações contra ele fez com que muitos aliados e amigos se afastassem.
Sua segunda mulher, Veronica Lario, pediu divórcio em maio de 2009 e disse a um jornal que ela não poderia ficar com um homem que “se envolve com menores”.
Em novembro de 2010, seu ex-aliado político Gianfranco Fini pediu que ele renunciasse, quando surgiram revelações sobre uma dançarina marroquina adolescente chamada Ruby.
Batalhas legais
Nascido em Milão, Berlusconi sempre afirmou que estava sendo perseguido pelas autoridades da cidade.
Ele foi acusado de desvio de verbas, de fraude fiscal e contábil e de tentativa de subornar um juiz, mas negou ter cometido qualquer crime e nunca foi condenado de forma definitiva.
Vários destes casos foram a julgamento. Em alguns deles, Berlusconi foi absolvido e em outros, foi condenado, mas o veredicto foi derrubado com recursos. Outras vezes, limitações legais fizeram com que os casos fossem abandonados.
Em 2009, o premiê estimou que em 20 anos ele havia comparecido 2,5 mil vezes a cortes, em 106 julgamentos, com um custo legal de 200 milhões de euros (cerca de R$ 450 milhões).
Seu governo aprovou reformas que alteravam a definição legal de fraude, mas parte de uma lei de 2010 que dava a ele e a outros ministros imunidade temporária foi derrubada pela Corte Constitucional da Itália, que deixou a decisão final a cargo dos juízes.
Nascido no dia 29 de setembro de 1936, Silvio Berlusconi começou sua carreira vendendo aspiradores de pó, e trabalhou como cantor em clubes e cruzeiros.
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