Artigo do
vice-líder do PCdoB na Câmara dos Deputados Rubens Pereira Jr (MA)
Reivindicamos
por anos que o Brasil fizesse uma reforma política, que alterasse profundamente
o modo de fazer política no país. No entanto, acho que faltou defender mais
claramente quais eram as alterações que queríamos.
O resultado
é que finalmente temos em 2015 uma reforma política, como resultado dos
insistentes pedidos de reforma política e das mobilizações recentes pedindo
renovação. Infelizmente, não temos muito o que comemorar com ela.
A reforma
existente produziu o inverso do que queríamos. Não veio uma reforma que
reduzisse o peso do dinheiro sobre a vontade do povo. Ao contrário, as
alterações aprovadas pelo Congresso Nacional constitucionalizam as doações
privadas. O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) caminhava para
considerar inconstitucional a doação de empresas a candidatos. A Adin (Ação
Direta de Inconstitucionalidade) impetrada pela OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) argumentava que, sem direitos políticos previstos na Constituição, as
empresas não poderiam participar do processo eleitoral, mesmo que
indiretamente, por meio do financiamento.
A campanha
eleitoral comporta apenas três atores: candidato, eleitor e partido. Empresa
não tem direito a voto, portanto não pode participar do processo, nem indiretamente.
A entrada de um quarto elemento nessa equação, a empresa, é que compôs a
maioria dos escândalos que hoje conhecemos na política, a começar pelo caso
mais ilustre da Lava Jato.
A reforma
eleitoral aprovada pela Câmara dos Deputados também fixou um limite para gastos
em campanha, o que é bem vindo. No entanto, fixa o gasto de deputado federal,
por exemplo, em 70% da campanha mais cara do país na última eleição. Isso,
imediatamente joga todos os candidatos do país para buscar o novo teto, que será
de R$ 5 milhões.
Por fim, as
alterações feitas pelo Congresso mascaram as doações, já que a maior parte
delas terá de ser feita aos partidos, que o repassarão aos candidatos. Com
isso, o eleitor fica sem saber quem está pagando a conta da campanha do candidato
em quem ele quer votar.
Na monarquia
brasileira, o voto era censitário. Só podia votar quem comprovasse renda
superior a 100 mil réis, o que representava pouco mais de 10% da população. Ou
seja, quem tinha dinheiro decidia quem governaria para toda a população.
Aos poucos,
com ar de modernização, estamos regredindo a esse estágio: quem tem recursos,
escolhe quem vai tomar decisões. O peso do poder econômico tenta se sobrepor à
vontade das maiorias.
E não vejo
outro caminho que não uma Constituinte para debater a Reforma Política, em que
os legisladores sejam escolhidos exclusivamente para debater a reforma
política. Quando deputados e senadores debatem esse assunto, a única pauta que
a maioria tem em mente é saber se as regras que estão sendo alteradas garantem
a sua reeleição. Só uma Constituinte Exclusiva pode nos tirar dessa
encruzilhada e garantir mudanças que retomem a credibilidade de nossa
democracia.
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