Na qualidade de funcionário da Prefeitura Municipal de Duque
Bacelar, eu tive o primeiro contato como leitor de jornal, com O
Imparcial, um jornal de São Luís que circulava em Duque Bacelar. Não sei
bem o ano e o mês quando, a partir deles, o jornal se fazia presente em
nossa cidade, por meio de um contrato de assinatura feito pelo
prefeito, meu saudoso amigo José Brito, entre a Prefeitura e O
Imparcial.
Com atraso, o jornal chegava sempre às terças-feiras, pelos Correios, em lote de seis a sete exemplares. No começo, eu recebia, e, sem ter a menor atenção pela leitura, eu guardava os exemplares do jornal na gaveta de um armário. Num determinado dia, ao receber do carteiro o lote de jornais percebi, por uma foto e uma manchete de um deles, que se tratava de jornal de São Luís, coisa até então por mim ignorada. Com a descoberta, tomei interesse pela leitura de O Imparcial. O gosto pela leitura do jornal foi se acentuando que eu já não o esperava mais na Prefeitura e, às 10 horas das terças-feiras, lá estava eu nos Correios para receber o pacote de jornal.
O difícil era tirar a agente dos Correios de Duque Bacelar, Dona Orsina Oliveira, de perto do rádio para me entregar os jornais, quando ela estava ouvindo uma radionovela. Outra demora, para eu receber os jornais, era encontrar Dona Orsina fazendo a prestação de contas dos leilões de São José que ela fazia em benefício da construção da Igreja-sede da paróquia de nosso padroeiro. A comunidade católica de Duque Bacelar deve muito a Dona Orsina a construção da Igreja de São José.
Naquela época, eu era estudante do 2º ano do Ginásio Bandeirante e tinha como professor de Português e redação o mestre de obra gramatical José Linhares de Araújo, o “LINHARES DE ARAÚJO” da Academia Caxiense de Letras.
Um dia, ao entrar na sala para sua aula – o azar foi meu –, o professor Linhares vê-me lendo o Imparcial. Com fúria de um devorador de letras, o mestre partiu pra cima de mim e pegou o jornal, olhou, dobrou e coloca-o em sua pasta. No dia seguinte, de Imparcial nas mãos, na sala de aula, fui apanhado novamente pelo professor. Ansioso por saber como eu estava conseguindo aquilo, aproxima-se de mim um interessado Linhares. Contei-lhe que o jornal vinha para a Prefeitura, pois ela era assinante.
Triste sina de leitor, a minha: informar ao professor Linhares a presença de O Imparcial em Duque Bacelar. De então por diante, travamos uma concorrência desleal pela leitura do jornal. Com medo de que o Linhares não me devolvesse os jornais, passei a escondê-los e só lhe passava depois da minha leitura.
Lendo O Imparcial, passei a ter gosto pela leitura dinâmica e descontraída, a que se faz para acompanhar o pensamento intelectual de quem escreve, sem as formalidades das regras impostas pelos livros didáticos. Com isso, fugi do analfabetismo funcional, pois não tendo o “engenho e arte” de Camões na escrita, quis tê-lo na leitura. O Imparcial me deu isso. Já o quase padre, meu professor de Português e redação, Linhares, tinha tudo isso dentro do seu mundo acadêmico. Ele queria apenas acompanhar os fatos jornalísticos do Maranhão para ficar sabendo das fofocas da política, da economia e de outros assuntos.
Eis-me, mais que de repente, em São Luís, aonde fui buscar dias melhores nos estudos e no trabalho. Lá, dei de cara com o jornal O Imparcial na mesa do gerente do Banco Nacional, onde eu fui trabalhar. Isso fazia com que eu chegasse ao banco 40 minutos antes do expediente, só para ler O Imparcial e dele matar a saudade dos tempos em que eu fazia isso em Duque Bacelar. Agora, sem a concorrência do meu hoje velho amigo José Linhares. Na mesa do gerente havia outros jornais de São Luís, mas eu preferia o Imparcial aos outros que estavam na mesa.
No Banco da Amazônia, outro banco onde trabalhei em São Luís, por meio de um concurso público, depois do Nacional, a mesma coisa: O Imparcial de graça, antes do expediente, na mesa do gerente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário