Coluna semanal do portal Gaditas
Quando conheci São Luís tinha 11 anos, fiquei deslumbrado pelas belezas e encantamentos da cidade histórica. Fato natural para uma criança procedente de uma fazenda no interior de Coelho Neto então com menos de três mil habitantes. Mas não foi com certeza o choque, causado pelas dimensões da capital, que me fascinou logo à primeira vista. Algo mais profundo invadiu o peito e a alma da criança romântica que sonhava com um futuro grandioso. Inicialmente foram oito anos de aprendizado, divididos entre os colégios Marista, São Luís e Liceu Maranhense. Interrompi o curso de amizades puras da juventude enquanto concluía os estudos no Rio de onde regressei para fixar residência definitiva na Atenas brasileira. Frequentemente tenho a alegria de reencontrar alguns daqueles amigos e colegas longevos como eu.
Advogado de formação a vida me direcionou para trabalhar na imprensa e abraçar a política como opção de vida. A faina diária me envolveu com a cidade, vivenciei seus dramas e problemas mais graves. Imaginava saídas para preservar o patrimônio histórico ante o desafio do desenvolvimento e da modernização. De forma inconsciente esperava apenas uma oportunidade para emprestar a minha contribuição pessoal quando recebi o convite do engenheiro Vicente Fialho para exercer o cargo de Chefe de Gabinete de sua administração como Prefeito de São Luís.
Vicente Cavalcante Fialho, cearense de grande estirpe, foi trazido ao Maranhão para integrar a equipe técnica do governo Sarney. Muito jovem e idealista era “um tocador de obras,” como se diria no jargão popular. Indicado pelo governador foi nomeado Prefeito de São Luís. Revelou-se excepcional administrador público sendo, posteriormente, indicado pelo governador Cesar Cals, para a Prefeitura de Fortaleza de onde saiu promovido a Ministro das Minas e Energia, finalmente elegeu-se Deputado Federal pelo Ceará. É oportuno esclarecer que no período da ditadura militar, os prefeitos das capitais eram indicados pelos governadores e nomeados pelo Presidente da República
Em decorrência da função na Chefia de Gabinete, cabia a mim o relacionamento com o público, com a imprensa e com políticos, principalmente os vereadores. A Câmara era presidida pelo veterano e experiente Walter Fontoura, tivemos ótima convivência e foi um grande aprendizado para entender os meandros da vida da cidade. Um fato interessante é que os vereadores daquele tempo, eram homens de vários mandatos, não me passou desapercebido que dois dos mais prestigiados eram proprietários de empresas de transporte coletivo (ônibus) como Walter Fontoura e Benedito Terceiro. Destaque também para Lia Varela, advogada, funcionária da Justiça Federal discípula e grande amiga do senador Henrique La Roque de quem herdou muitos conhecimentos. Grandes nomes de nossa história política passaram pela casa da representatividade do povo ludovicense mas, como o legislativo é um seguimento da sociedade, ali também tiveram assento algumas figuras folclóricas como o vereador Papagaio de quem contam muitos causos como o que narro a seguir: Recebido pelo governador Mattos Carvalho apelidado de “peito de pombo” papagaio quebrou o protocolo e iniciou a audiência dizendo – vamos falar de ave para ave.
Fialho revelou grande sensibilidade no trato à coisa pública mas o seu governo foi eminentemente técnico. Pela primeira vez externou-se a consciência de que a cidade, ainda pequena e desestruturada, precisava de planejamento para acolher o desenvolvimento que se prenunciava. Os problemas mais urgentes foram sendo enfrentados e resolvidos enquanto, paralelamente, planejava-se a infraestrutura da futura metrópole. Foram abertas avenidas largas, construíram-se viadutos e logradouros modernos, reformulou-se o mercado central com ampliação e higienização dos boxes. Desapropriou-se áreas para implantar assentamentos populares urbanizados e saneados adequadamente como a Vila Fialho, hoje um dos maiores bairros de nossa querida urbe ostentando o nome de seu idealizador.
Um fato que demonstra a sensibilidade do prefeito, que não se furtava ao diálogo mas avesso às questiúnculas, era o estímulo aos vereadores para comparecerem a seminários, simpósios e debates sobre municipalismo e administração pública. Numa determinada ocasião questionei-lhe: por que tanto entusiasmo no incentivo às viagens dos nossos edis? – Ao que respondeu “é para ampliar os horizontes, eles precisam melhorar.”
Antes da saída de Sarney, Fialho adoeceu seriamente e foi tratar-se em Fortaleza. Com isso o seu tempo na Prefeitura foi restringido a vindas esporádicas para assinar documentos. O ggovernador desincompatibilizou-se seis meses antes para concorrer ao Senado, assumiu o vice Dr. Antonio Dino e com ele conclui o tempo de Prefeitura substituindo o titular.
A minha identidade com São Luís continuou cada vez mais profunda. Sempre fui, ao lado de Cafeteira, o deputado federal mais votado na Capital. Anos mais tarde voltaria a prefeitura como vice-prefeito de Jackson Lago numa eleição direta, histórica e apaixonante, em que derrotamos o Presidente da República, o Governador e todos os seus seguidores.
Continuo vivo, com a graça de DEUS, mais adiante contarei o primeiro período da administração Jackson Lago e porque o meu nome e retrato estão na galeria dos Prefeitos desta cidade tão amada.
*Dr. Magno Bacelar é advogado e exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, senador da república, vice-prefeito de São Luís e prefeito de Coelho Neto.
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