Deus deu um recado aos brasileiros. Antes, algumas considerações.
Em entrevista à VEJA.com e ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem
Pan, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, diz o óbvio:
o país já vive um racionamento de energia, mas por outros meios. E por
que ele afirma isso? Vamos ver. Já houve um tarifaço de 20% no ano
passado e deve haver outro da ordem de 40% neste ano. Pra quê? Para
financiar o setor e, sim, diminuir o consumo. O país também já convive
com cortes de energia, como o havido na segunda-feira. Ou isso ou o
colapso. Culpa da falta de chuva? Um pouco. Mas sobretudo da falta de
planejamento.
A quantidade de besteiras do petismo na área assombra. E a situação
só não é mais dramática porque o crescimento está na lona. O país não
teria hoje energia para se expandir a modestíssimos 2%, por exemplo. E é
certo que caiu numa espécie de círculo vicioso. A energia cara
desestimula os outros investimentos, o que desestimula o… investimento
em energia. Sic transit… O país chegou à atual crise por incompetência.
Agora, o que se tem é um limite de infraestrutura mesmo.
A coisa vem de longe. Começou com os petistas tendo a ideia iluminada
de tabelar a taxa de retorno das empresas que investissem no setor. O
capital privado se mandou. É por isso que Belo Monte, por exemplo, é
tocada basicamente por recursos públicos. Nem a China define taxa de
retorno. Mas sabem como é o petismo e suas luzes trevosas. Aí Dilma
Rousseff, sempre muito competente em criar a fama de competente,
resolveu enfiar goela abaixo do setor a MP 579, que baixou a tarifa na
porrada. O que já estava ruim foi para o desastre. E se chegou à atual
situação.
Desde novembro de 2009, quando o Brasil ficou às escuras,
especialistas e imprensa tentam discutir a real situação do setor
elétrico no país. Inútil. Tudo termina num paredão chamado Dilma
Rousseff. Qualquer outra crise em curso no país não foi fabricada
principalmente pela atual presidente. Ela pode, sim, ser sócia do erro,
mas não a sua protagonista. Na área energética, especialmente no setor
elétrico, não há como dividir as culpas. Ela sempre pintou e bordou. Fez
o que quis, com o resultado que se vê agora.
O governo segue com um discurso esquizofrênico a respeito. O Operador
Nacional do Sistema admite o pico de consumo, que levou ao blecaute;
Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, insiste na versão edulcorada
do problema técnico. Mesmo assim, anunciou nesta terça a entrada em
ação das termelétricas a óleo da Petrobras, o que vai adicionar 867
megawatts (MW) ao sistema até o dia 18 de fevereiro. Falou ainda em
outras “medidas” envolvendo Itaipu. Então ficamos assim: para todos os
efeitos, não há problema de energia no país, mas o governo anuncia a
entrada em funcionamento das térmicas da Petrobras.
O problema desse tipo de conversa é a insegurança que gera. O
primeiro item de qualquer investimento produtivo de monta se chama
“energia”. Pires apontou em Os Pingos nos Is um paradoxo de que já
tratei aqui no dia 5 de novembro. Quando o petróleo estava a US$ 100 o
barril, o Brasil vendia combustíveis a preços subsidiados, abrindo um
rombo na Petrobras. Agora que está a US$ 40, gasolina e diesel têm um
preço abusivo. O mesmo acontece com a energia elétrica: quando era
abundante, era cara; quando passou a ser escassa, os gênios da lâmpada
(ooops!) decidiram derrubar a tarifa, e o resultado está aí.
O PT está de parabéns: o mundo tem hoje energia, não importa a fonte,
abundante e barata. No Brasil, é escassa e cara. Os companheiros ainda
não desistiram de assombrar a lógica, o mercado e o bom senso.
Ah, sim: em entrevista nesta terça, o ministro Eduardo Braga
recomendou que a gente reze para chover. Então tá… “Meu divino São José/
dá-nos água com abundança…”. Fico pensando, assim, no olhar incrédulo
de Deus: “Como é? Vocês elegem o PT quatro vezes e depois querem jogar a
culpa nas minhas costas? Estou muito ocupado! Falem com o Lula, aquele
que pensa ser o meu superior…”.
FONTE: Reinaldo Azevedo
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