DEU NO BLOG DO GILBERTO LÉDA:
Aliados do deputado estadual Marcos
Caldas (PRP) atearam fogo ao Fórum de Buriti de Inácia Vaz, na região do
Baixo Parnaíba, e tentaram amarrar o juiz Jorge Sales Leite, depois de o
magistrado dar decisão favorável à permanência do prefeito Rafael
Brasil (PRB) no cargo.
O objetivo dos manifestantes era expulsar o juiz do Fórum, mas a ação foi impedida por homens da Polícia Militar.
O
processo de cassação de Brasil iniciou-se em novembro de 2013. Na
ocasião, o então juiz da Comarca, Mario Mesquita Reis, concedeu liminar
determinando a cassação do prefeito e do seu vice, Raimundo Camilo,
ambos do PRB, por formação de “caixa dois” na eleição de 2012, e a posse
imediata do segundo colocado na disputa, Lourinaldo Silva (PRP) – reveja.
Dias
depois, o mesmo magistrado concedeu nova liminar, desta vez em Ação
Cautelar, e garantiu o retorno de Rafael Brasil ao cargo de prefeito (veja). A decisão foi agora confirmada no mérito por Jorge Leite, o que provocou a reação dos aliados de Marcos Caldas.
Reflexão
A
ação de baderneiros já havia sido motivo de reprimenda pelo juiz Mário
Reis, quando da primeira liminar concedida por ele. Na ocasião, a mesma
turma de hoje ameaçava “cortar” a MA-034 na altura do município alegando
demora para a publicação de decisão sobre o caso.
Indignado,
o magistrado incluiu na decisão liminar uma série de considerações
sobre a política maranhense. E, mesmo dando decisão favorável ao grupo
que planejava “cortar” a rodovia, não poupou críticas à oposição local.
“Os
asseclas, em vez de reclamarem, deviam buscar ler os planos de governo,
eleger melhores representantes e não dependerem da estrutura do
governo, que não existe para ser pai de ninguém!”, asseverou.
Leia abaixo a íntegra do artigo que o juiz incluiu no despacho.
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Na
tarde da quarta-feira (06.11.2013), recebi mensagem de Buriti
anunciando uma possível interrupção da rodovia estadual por conta do
atraso desta sentença, cujos autos vieram conclusos em 22 de outubro de
2013.
Sentença não é fruto
de mera subsunção desprovida de análise – o que até facilitaria o
trabalho dos juízes. É, na verdade, um árduo trabalho de analisar os
fatos e provas e amoldá-los ao que prevê nossa legislação. Não é
trabalho que se extrai da cabeça de um julgador da noite para o dia,
notadamente quando este juiz possui mais de 3.000 (três mil) processos
fervilhando em sua cabeça.
Trabalho
exaustivamente em uma Comarca (Chapadinha/MA) que possui a distribuição
cerca de 10 (dez) vezes maior que a de Buriti/MA. Só isso já
justificaria certa delonga, mas em nenhum momento utilizei este
argumento. Estou aqui para contribuir, mas parece que a sociedade
interessada faz pouco caso da ajuda. Absurdo!
Não
questiono a pressa que os feitos eleitorais devam ter. Assevero,
contudo, que a maledicência de alguns, aliada a interesses mesquinhos de
balbúrdia, tencionando claramente desestabilizar a pacata comunidade de
Buriti, cria um clima de desrespeito e bagunça. Se acharem que agindo
assim irão me intimidar, estão enganados!
Os
asseclas, em vez de reclamarem, deviam buscar ler os planos de governo,
eleger melhores representantes e não dependerem da estrutura do
governo, que não existe para ser pai de ninguém!
Estranhamente,
o processo teve um retardo que não se iniciou em minhas mãos, mas as
pressões começaram a recair sobre minha condução dos feitos. Mais
estranho ainda é a ignorância daqueles que apontam o dedo, sem sequer se
atentar aos prazos processuais. É senhores, no nosso país existem leis
eleitorais que estabelecem prazos a serem respeitados!
A
propósito, aqui lançando um juízo pessoal acerca da política
brasileira, independentemente de quem ocupar a cadeira de prefeito neste
Município de Buriti/MA, não cessará a contenda político-partidária. A
questão é cultural! O problema não está só nos políticos, está também em
nosso povo! O mesmo povo que se arregimenta para defender os interesses
de seu candidato é o mesmo vende sua consciência, vende sua dignidade,
enfim, vende sua própria escolha. As eleições que presidi ou mesmo
trabalhei como advogado ou à serviço da Justiça Eleitoral me autorizam
essa conclusão.
Infelizmente,
vivemos em um país onde a população, em sua grande maioria, não é
politizada. Arrisco dizer que a massa social, é escravizada mental e
socialmente por políticas atrasadas, mascaradas de assistencialismo. Na
atual conjuntura, se um candidato à presidência disser que vai acabar
com o “bolsa-família” , por exemplo, este certamente será o maior
derrotado nas urnas. Este benefício, aliás, alcança pessoas que se
aproveitam de métodos sub-reptícios para utilizá-lo como fomentador de
ócio, incentivador à natalidade e, a longo prazo, gerando aumento da
criminalidade pela falta de compromisso de pais e da falência do sistema
de governo.
Nos municípios
maranhenses, com exceção das grandes cidades e da Capital, o dinheiro
que circula é oriundo exclusivamente da prefeitura. Quando um(a)
prefeito(a) atrasa a remuneração gera um verdadeiro caos no comércio; os
recursos não circulam. E quem presta concurso público vira príncipe,
rendendo homenagens apenas ao soberano, intitulado prefeito(a).
A
oposição, que lembra os tempos da resistência armada, pouco
esclarecida, espera, de forma ensandecida, que o poder seja destinado ao
seu escolhido. Mas o que realmente deseja é ter a mesma vida de quem se
guerreia.
Em muitos
municípios maranhenses, a conclusão dos eleitores esclarecidos é que as
eleições municipais são verdadeiras guerras, porquanto representam a
chance de um grupo se firmar, ainda que por quatro anos, e usufruir das
benesses e tranquilizar um grupo que o apoiou nas eleições. Não é raro
ouvir nas ruas que um eleitor terá um cargo na prefeitura, caso seu
candidato vença.
Por isso,
tenho a firme convicção de que aqueles que imaginam a derrocada de um
candidato são na verdade pessoas que tem o mesmo propósito de atingir os
objetivos outrora alcançados pelos seus opositores. No Maranhão,
verdade seja dita, alguns políticos criam em sua órbita corporal uma
aura, uma figura mítica, do qual não sobram eleitores, mas sim
seguidores.
Utópico é algo
que não existe, mas que não é impossível. É, no dizer do pensador
uruguaio Eduardo Galeano, um horizonte, em que quanto mais corremos para
alcançá-lo, mais ele se afasta. Desejo, honestamente, que nosso povo
seja mais educado, não só de valores e princípios – coisa que falta aos
muitos que insuflam os populares -, mas também tenha mais conhecimento e
educação. A intenção de tornar o Brasil uma Europa deve passar
obrigatória pela reforma do ensino, mas também agir e cobrar condutas
éticas. É, como no mito da criação do homem, de Platão, crer que o
político tenha como base o aidos (decoro, pudor) e o dike (justiça).
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