A Justiça
só é cega para alguns; enquanto petistas históricos amargam o cárcere, a 200
quilômetros do presídio da Papuda, em Goiânia, contraventor mais famoso da
atualidade está livre para rearticular seus negócios, frequentar os melhores
restaurantes da cidade e figurar nas colunas sociais; desde que se livrou das
grades (mesmo condenado a mais de 39 anos), Cachoeira se casou, passeou por
resorts da moda e já pensa mesmo em recompor sua bancada parlamentar, tendo à
frente a mulher, Andressa Mendonça, ensaiando candidatura à Câmara dos
Deputados
José Dirceu precisa pedir autorização à Justiça para atualizar seu blog,
Delúbio Soares tenta um emprego na CUT e para isso precisa da gentileza dos
magistrados. E José Genoino; esse precisou provar, de forma involuntária até,
que sofre mesmo de um grave problema cardíaco. Tudo isso tem como cenário o
presídio da Papuda, nos arredores de Brasília.
A pouco mais
de 200 km dali, em Goiânia, um condenado a 39 anos de cadeia não precisa de
autorização judicial para frequentar os melhores bares e restaurantes, reativar
sua vida de empresário e até mesmo costurar articulações políticas. Esse é
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Se a Justiça
Brasileira produz disparates como esse, Cachoeira não tem culpa e aproveita
para refazer a vida ao lado da mulher, Andressa Mendonça, com quem se casou com
pompa e circunstância logo após a breve estadia na Papuda. Enquanto isso, os
fundadores históricos do PT mofam nas celas do presídio brasiliense e clamam
por uma benevolência da Justiça para talvez cumprirem uma pena domiciliar ou
mesmo uma tarefa simples, como escrever texto num blog.
Carlinhos
Cachoeira conhece bem a Papuda. Ele ficou nove meses presos na penitenciária em
2012 e agora o máximo que chega perto do complexo presidiário é quando vai a
Anápolis visitar familiares, frequentar igrejas e saber como andam seus
negócios.
Nem tudo,
porém, foi alegria na vida do contraventor. Desde a eclosão da Operação Monte
Carlo Cachoeira perdeu a mãe. Não pode sequer velar seu corpo, pois estava
trancafiado na papuda. Meses depois foi a vez do pai, o folclórico Tião
Cachoeira, um dos pioneiros do jogo do bicho em Anápolis, ir-se embora, ceifado
por um enfarte.
Diversificação
Reportagem
do jornal O Popular, de Goiânia, publicada em 23 de novembro, mostrou como está
a vida do ex-contraventor. Cachoeira agora atua no ramo imobiliário e, com seus
olhos de lince, mira investimentos em Goiânia, Anápolis e outras cidades do
interior. Em Goiás Cachoeira tem fama de Midas, onde tudo que toca, qualquer
negócio a que se dedique, prospera, vira ouro. A atuação profissional voltou a
ser prioridade após ele transformar seu cotidiano pessoal numa espécie de
reality show.
Ao sair da
cadeia, ele cumpriu a promessa que fez a Andressa ainda na Papuda. Os dois se
casaram na residência do casal, num condomínio de luxo na Capital, e a foto que
rodou o Brasil foi Cachoeira beijando os pés da esposa na frente de um batalhão
de fotógrafos. Cachoeira é frequentemente avistado na movimentada noite
goianiense, sempre presente nos melhores restaurantes da cidade. Até suas idas
ao cabeleireiro são razões para notícias de jornais.
O ex-amigo
de Demóstenes Torres também se fez flagrar num resort luxuoso na Bahia, no
começo deste ano. Bermuda florida de grife, óculos escuros e Andressa, de
biquíni, ao lado, exibindo os dotes que fizeram a musa do CPI que levou o nome
do marido. Trajes bem diferentes e liberdade de darem inveja aos petistas
condenados.
Com a vida
conjugal ajeitada e a atuação empresarial retomada, Cachoeira estendeu seus
tentáculos no ambiente que lhe fulminou, na Operação Monte Carlo, a política. A
esposa se filiou ao PSL e os boatos – estrategicamente negados pelo próprio
Cachoeira – de uma possível candidatura de Andressa a deputada federal se espalharam.
O mandato
que Genoino renunciou na Câmara Federal é agora cobiçado por Cachoeira e
esposa. Nem mesmo Joaquim Barbosa sonharia com tamanha ironia. O jornal Tribuna
do Planalto, de Goiânia, divulgou no mês passado que Cachoeira comandaria um
grupo de três partidos (PMN, PSL e PT do B) e seu objetivo é fazer uma bancada
forte no Congresso em 2014. É articulação política de fazer inveja ao agora
preso ex-ministro José Dirceu.
Fonte:
Jornal GGN
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