Deputados dão golpe com férias de servidores e geram prejuízo de R$1 milhão
Correio Braziliense
O novo
esquema nos gabinetes tem três estágios principais. Primeiro, os servidores
públicos recebem aumento de salário em até 1.300%. Depois, são demitidos com os
benefícios superfaturados. Por último, voltam para a Câmara, recontratados
pelos parlamentares.
No centro do
poder, em Brasília, parlamentares encontraram um novo esquema para onerar a
máquina pública. Em uma canetada, servidores lotados nos gabinetes da Câmara
dos Deputados veem os salários aumentarem em até 1.300% poucos dias antes de
serem exonerados. Apesar de recente, a alteração no contracheque garante ao
funcionário o dinheiro de férias não gozadas, além de um terço desse benefício,
calculado em cima do maior e último valor. Nos últimos 12 meses, a prática, que
não é ilegal, pode ter causado prejuízo de pelo menos R$ 1.131.443,10 aos
cofres públicos.
Levantamento
do Centro de Coordenação e Documentação da Câmara, feito a pedido do Correio a
partir da Lei de Acesso à Informação, revela a frequência nas alterações
salariais dos servidores antes das demissões. Nos últimos 12 meses, foram
registrados 422 casos de funcionários que tiveram vencimentos aumentados, 198
deles foram dispensados num intervalo de dois meses após o reajuste. A saída
desses servidores, porém, é momentânea. Passados 90 dias, prazo estipulado pela
Casa da recontratação, a maioria retorna para o mesmo gabinete com salários
inferiores aos da demissão.
Lotada no
gabinete do deputado Alberto Filho (PMDB-MA), a servidora Áurea Helena Oliveira
Matos viu o salário passar de R$ 2.220 para R$ 10.190 em agosto do ano passado.
Dois dias após o reajuste de 359%, Áurea foi demitida. Vencido o tempo legal
para a recontratação, Áurea voltou para o mesmo gabinete, novamente com salário
de R$ 2.220. Lá, outras duas pessoas tiveram aumento, saíram e também
retornaram após três meses. Em um dos casos, o reajuste foi de 712%, de R$
1.470 para R$ 12.940. Em conversa com o Correio, na segunda-feira da semana
passada, Áurea justificou a rápida saída do gabinete para “fazer uma cirurgia”.
No mesmo dia, o chefe de gabinete, Jaime Ferreira Lopes, confirmou se tratar de
um “acordo” para garantir aos servidores uma indenização na demissão porque
funcionários comissionados “não têm direito a indenizações trabalhistas”. Jaime
prometeu ainda colocar a reportagem em contato com o deputado, mas não atendeu
mais às ligações do Correio.
Regras
Ao ser
exonerado, o servidor tem direito a receber a indenização referente às férias
não gozadas, além de um terço de férias, tudo em cima do maior salário. Se no
contracheque a remuneração é de R$ 12.940 e o servidor tem dois meses de férias
acumuladas, ele recebe R$ 25.880, mais um terço de férias de R$ 4.313, chegando
a um total de R$ 30 mil. Acordado com o parlamentar, três meses depois, o
servidor é novamente contratado e retorna para as atividades normalmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário